Conhecer os riscos dos anabolizantes nem sempre impede o uso
Jairo Bouer
20/05/2019 20h08
Arriscar a saúde e a própria vida para ter mais músculos vale a pena? Para algumas pessoas, infelizmente, parece que sim. Alguns estudos têm mostrado que, apesar de conhecerem os riscos, homens e até mulheres têm apelado para os anabolizantes para obter mudanças rápidas no corpo.
Uma dessas pesquisas, apresentada esta semana no congresso da Sociedade Europeia de Endocrinologia, mostra que 70% dos usuários de esteroides sabem que os efeitos colaterais incluem acne, calvície, problemas sexuais, irritação, infertilidade, insuficiência hepática e renal, infarto e derrame. Mas essa consciência não impede o uso.
A conclusão é de médicos da Universidade Pavlov I, na Rússia, que entrevistaram 550 frequentadores de academia. Desse total, 30% admitiram ser usuários, a maioria na faixa dos 22 a 35 anos de idade.
Um estudo publicado no ano passado na Revista Brasileira de Ciências do Esporte mostra que, por aqui, o cenário não é diferente. De uma amostra de 100 praticantes de musculação de 18 a 35 anos de idade, 46 relataram usar ou já ter usado testosterona de forma isolada ou junto com outras drogas, sendo quase metade do sexo feminino.
A maioria dos usuários (63%) obteve os produtos com amigos e 97% não tiveram qualquer acompanhamento médico. A análise foi conduzida por pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia e da Universidade Federal de São Carlos.
A internet facilitou bastante a venda de anabolizantes e não é raro encontrar dicas de fisiculturistas sobre como usar e onde obter esses produtos. Também é possível encontrar relatos que destacam os perigos dos esteroides, mas tudo indica que a propaganda negativa não tem sido suficiente para inibir as pessoas. Assim como acontece com usuários de outras drogas, o desejo de parar pode surgir somente quando já existe uma doença grave em curso.
Sobre o autor
Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.
Sobre o blog
Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.