Por que é tão importante curtir o post de alguém que você nem vê
Jairo Bouer
12/02/2019 00h44
Por que as pessoas sentem tanta atração pelo smartphone, mesmo quando está em um jantar com uma nova paquera? Um grupo de psicólogos decidiu fazer uma análise de todos os estudos que têm sido feitos sobre o assunto nos últimos anos e concluiu que a resposta para essa relação intensa dos humanos com esses pequenos aparelhos tem a ver com sua história evolutiva.
A equipe, das universidades do Arizona e do Estado de Wayne, nos Estados Unidos, explica que os seres humanos são programados para se conectarem uns com os outros e viver em grupo para sobreviver como espécie. Se abrir, confiar no outro, ser receptivo e cooperar são algumas atitudes que as pessoas tomam mesmo sem querer para criar essas conexões. É assim desde os tempos das cavernas, e esses mecanismos que levam as pessoas a interagir estão ligados a áreas muito antigas do cérebro.
O problema é que as mídias sociais amplificaram essa possibilidade de uma forma sem precedentes. Qualquer pessoa hoje tem uma rede no Facebook bem mais ampla do que seus ancestrais. Conclusão? A pressão para responder, de alguma maneira, a todas essas pessoas, é algo instintivo nas pessoas. É por isso que muitas não conseguem largar o celular para ouvir uma história do filho: é preciso curtir o post de um amigo, mostrar que você está presente e se preocupa com aquilo que ele diz.
O que os autores sugerem, de certa forma, é que, lá no fundo de todo usuário de rede social existe um homem das cavernas preocupado em manter ou construir um relacionamento que pode proteger sua vila de uma tribo invasora no futuro. Na revista Perspectives on Psychological Science, eles dizem que há um descompasso evolutivo entre os smartphones e os comportamentos sociais que ajudam manter as pessoas próximas umas das outras.
Estudos recentes têm mostrado que quase metade de todos os adultos admite que não poderia mais viver sem seus aparelhos. O tempo todo vemos as pessoas interromperem alguém para checar uma mensagem no celular, e o impulso tem gerado até conflitos conjugais. Uma das pesquisas analisadas conta que 70% de um total de 143 mulheres casadas dizem que o smartphone interfere em seus relacionamentos.
A equipe, liderada pelo professor de psicologia David Sbarra, ressalta que os dispositivos também trazem inúmeros benefícios para o bem-estar, e inclusive para a saúde. Mas é preciso que as pessoas tenham, pelo menos, a consciência de que essa relação com a tecnologia pode prejudicar sua vida familiar, conjugal e profissional.
Sobre o autor
Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.
Sobre o blog
Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.