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Redes sociais geram sensações inevitáveis de exclusão; e isso é perigoso

Jairo Bouer

26/09/2018 21h43

Crédito: Fotolia

Imagine que você está em casa, meio solitário, e abre sua rede social preferida para se distrair um pouco. Eis que entra a foto de duas grandes amigas, juntas, no que parece ser uma festa animadíssima. Não que elas tivessem obrigação de te convidar, mas, lá no fundo, bate uma certa mágoa, não bate?

Você pode não ter passado pela situação acima, mas, segundo pesquisadores, a maioria das pessoas experimenta a sensação de exclusão social ao navegar no Facebook ou em plataformas similares. E quase diariamente. A questão é que as pessoas adoram publicar suas selfies em festas ou encontros, mas ninguém convida todos os amigos para tudo. No fim das contas, tem sempre alguém que pode se sentir rejeitado ao visualizar a foto.

Pesquisadores da Universidade de Buffalo, nos EUA, fizeram experimentos com quase 200 usuários do Facebook e seus contatos, simulando cenários de exclusão social. Eles constataram que a sensação é tão perturbadora que chega a atrapalhar o raciocínio das pessoas, a ponto de torná-las mais vulneráveis aos anúncios publicitários que pipocam na rede. A conclusão foi publicada no periódico Social Science Computer Review.

A explicação da equipe, coordenada pelo professor de comunicação e pesquisador Michael Stefanone, é que a exclusão social, mesmo quando não intencional, é algo que as pessoas não superam fácil. Imediatamente após a emoção negativa aflorar, há um esforço mental de regulação. Explico melhor: se a foto incômoda era num bar lotado, por exemplo, a reação da amiga excluída pode ser procurar desculpas, como pensar "eu nem queria ir, odeio lugares cheios". Ou então caçar na memória quantas vezes, nos últimos meses, as mesmas amigas fizeram algo que não a agradou. Lembro que existem muitas outras situações capazes de gerar essa sensação de não pertencimento, que nem sempre é tão clara para quem sente.

Esses pensamentos automáticos podem ocupar uma parte considerável dos recursos mentais da pessoa naquele momento, o que, para os pesquisadores, deixaria o usuário sem sobra para questionar um discurso persuasivo, como o publicitário. Ao brigar com os próprios sentimentos, mesmo os mais inteligentes ficariam mais propensos a acreditar que um perfume ou roupa podem deixar alguém mais atraente.

Podemos extrapolar os resultados da pesquisa e imaginar o impacto que essas emoções negativas podem gerar diante do próprio conteúdo de outros usuários. Adolescentes tímidos, diante de gente que parece muito bem acompanhada com álcool na mão. Adultos infelizes com o próprio corpo, diante de sugestões de emagrecimento fácil que colocam a saúde em risco, e assim por diante. Ter consciência da vulnerabilidade pode ser o primeiro passo para se proteger da mágoa e também de falsas promessas.

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Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.