Mídias sociais prejudicam desempenho na escola? Veja o que estudos dizem
Jairo Bouer
21/02/2018 16h06
Ver os filhos mergulhados em mídias sociais como Facebook, Snapchat e Twitter tem deixado muitos pais de cabelo em pé. Pesquisadores alertam que a mania pode interferir no sono e até na tendência à depressão, para não falar no receio de prejuízos no desempenho escolar. Mas esse último temor talvez seja infundado. Pelo menos é o que mostra uma metanálise, ou seja, uma revisão de estudos.
Uma equipe de psicólogos da Universidade de Würzburg, na Alemanha, examinaram a literatura científica que existe sobre o tema e identificaram 59 estudos que abordam a correlação entre o uso de mídias sociais e o desempenho acadêmico, envolvendo um total de 30 mil jovens de diferentes partes do mundo.
A conclusão dos pesquisadores é que as preocupações dos pais, nesse sentido, são exageradas. Isso porque, apesar do grande número de indivíduos avaliados, os resultados dos estudos são muito contraditórios: alguns dizem que o impacto negativo existe, outros não demonstram qualquer interferência, e ainda há os que sugerem uma influência positiva das mídias sociais para os estudantes.
O que a equipe percebeu, no final das contas, é que tudo depende da forma como essas plataformas são usadas. Alunos que utilizam as mídias sociais para se comunicar sobre assuntos relacionados à escola tendem a ter notas um pouco melhores que os que não usam, por exemplo.
Já quem costuma utilizar o Instagram e outras plataformas semelhantes enquanto estudam ou fazem o dever de casa têm um desempenho um pouco pior, é claro. Estar envolvido em várias atividades ao mesmo tempo é sempre uma ameaça à concentração, qualquer que seja a idade.
Os alunos que entram em redes sociais com muita frequência, e postam diversas mensagens e textos todos os dias também apresentaram notas ligeiramente mais baixas que os colegas que não têm o mesmo comportamento. Mas os pesquisadores avisam que o efeito negativo encontrado foi pequeno.
Por último, os psicólogos concluíram que os estudantes que são ativos nas mídias sociais não necessariamente passam menos tempo estudando. Em outras palavras, não foi possível confirmar com rigor científico a ideia de que essas plataformas roubam um tempo que seria dedicado ao trabalho escolar.
Se não houvesse espaço para pubicar posts ou trocar vídeos, será que esses jovens estudariam mais? Ou simplesmente migrariam para outras atividades, como sonhar, ver TV, falar no telefone, jogar videogame ou encontrar os amigos? A segunda hipótese parece mais realista.
De qualquer forma, a distração provocada pela internet é inegável. Por isso é importante estabelecer uma rotina para os estudos e, nesse momento, dar um tempo para as mídias sociais. Desligar as telas pelo menos uma hora antes de ir para a cama é outra dica, porque as luzes dos aparelhos prejudicam a qualidade do sono. Quanto mais cansaço, maior a propensão a tentações.
Sobre o autor
Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.
Sobre o blog
Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.