Topo

Jairo Bouer

Tecnologia em excesso prejudica compreensão de textos complexos, diz estudo

Jairo Bouer

19/08/2019 18h44

Crédito: Fotolia

Ninguém mais consegue viver sem um smartphone, já que o aparelho cumpre várias finalidades: checar mensagens, ler notícias, trocar ideias, trabalhar, paquerar, chamar táxi e encontrar uma rua, entre muitas outras. A praticidade é inquestionável,  mas alguns estudiosos têm se preocupado com o que esse fenômeno pode fazer com o nosso cérebro.

Cientistas da Universidade do Estado da Pensilvânia, nos EUA, descobriram que indivíduos que gastam muitas horas por dia no aparelho podem perder a capacidade de processar textos mais complexos, como, por exemplo, aqueles que explicam conceitos científicos.

Esse tipo de texto costuma ter uma estrutura que consiste em apresentar diferentes tipos de informação e, depois, estabelecer uma conexão entre os dados para chegar a uma conclusão. Para os cientistas, quem abusa da tecnologia fica com dificuldade para lidar com isso. Identificar as informações mais importantes de um texto e colocá-las numa ordem hierárquica, por exemplo, tem sido uma dificuldade comum entre estudantes.

A pesquisa contou com 51 voluntários de 18 a 40 anos de idade, todos eles destros. Eles foram submetidos a exames de escaneamento cerebral enquanto liam artigos científicos sobre os seguintes temas: matemática, Marte, circuitos eletrônicos, GPS e meio ambiente. O movimento dos olhos dos participantes também foi rastreado. Depois, a compreensão deles sobre os textos foi testada.

Os pesquisadores perceberam que os indivíduos que usavam aparelhos eletrônicos o tempo todo tiveram uma pior compreensão dos textos. Nos exames de imagem eles apresentaram menor atividade em regiões cerebrais ligadas a processamento de informações complexas, compreensão da linguagem e atenção.

Uma dessas áreas, chamada ínsula, está envolvida na mudança de foco. Sabe quando você lê algo e, de repente, começa a pensar na vida e alguém chama a sua atenção de volta para a leitura? Isso é uma das coisas que a tecnologia parece afetar. A outra é a compreensão semântica, ou seja, do significado das palavras, uma função do giro frontal inferior.

Os cientistas acreditam que smartphones e tablets mudam a forma como nosso cérebro processa informação, o que pode ter um impacto importante para o desempenho de alunos do ensino médio em diante. Eu acrescentaria que essa deficiência pode até limitar a carreira das pessoas. Quem conservar a capacidade de absorver textos mais longos e complicados provavelmente vai ficar com os melhores salários num futuro próximo.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.