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Jairo Bouer

Falta de sono é associada a comportamento de risco na adolescência

Jairo Bouer

03/06/2019 21h40

Crédito: iStocksono

Adolescentes que não dormem o suficiente podem ter um risco maior de se envolver em comportamentos sexuais de risco, como transar sem camisinha e sob influência de álcool ou drogas. É o que mostra uma pesquisa com 1.850 jovens acompanhados ao longo de quatro anos nos EUA.

O estudo, divulgado pela Associação Americana de Psicologia, foi coordenado pela Rand Corporation, uma instituição de pesquisa sem fins lucrativos. Os dados foram publicados na revista Health Psychology.

Os participantes, de diferentes etnias, foram examinados quatro vezes, dos 16 aos 19 anos de idade. Eles relataram seus horários de dormir e acordar e se tinham problemas de sono. Também deram informações sobre sua atividade sexual e uso de álcool e outras substâncias.

Os pesquisadores observaram o que a gente já sabe na prática: os jovens não têm dormido as oito ou dez horas recomendadas pelos médicos. Apenas 25% dormiam cerca de 8,5 horas por noite. Os motivos apontados foram variados, como horários da escola, alterações no relógio biológico (típicas da adolescência), atividades extracurriculares e mesmo pressão social.

A equipe esperava confirmar a premissa de que dormir pouco durante a semana e muito nos fins de semana poderia trazer resultados negativos para a saúde dos jovens. Mas eles descobriram que a maioria dos adolescentes não conseguia repor o sono perdido nos sábados ou domingos.

Os jovens com privação crônica de sono foram quase duas vezes mais propensos a praticar sexo sem camisinha do que aqueles que conseguiam dormir umas três horas a mais no fim de semana.

Embora o estudo não possa estabelecer uma ligação direta entre a qualidade do sono e o comportamento sexual, os autores dizem que existem evidências de que essa conexão existe.

Para os autores, a regularidade nas horas de sono é importante, mas talvez seja inviável para os adolescentes. A saída seria tentar encontrar um meio-termo – dormir um pouco mais durante a semana, e não levantar muito tarde aos sábados e domingos.

Uma outra pesquisa publicada esta semana traz outra observação sobre o sono dos jovens: a de que qualidade é mais importante do que quantidade. Em outras palavras, mais do que se concentrar no número de horas dormidas, é preciso observar se o adolescente tem dificuldade para pegar no sono à noite e sofre para sair da cama de manhã. Se a resposta for positiva, é porque existe um problema.

Os pesquisadores, da Universidade de British Columbia, no Canadá, analisaram dados de mais de 3.100 garotos e garotas de 13 a 17 anos de idade, ao longo de dois anos. Os participantes que tinham dificuldade para dormir ou para acordar foram quase duas vezes e meia mais propensos a ter uma condição de saúde abaixo da ideal. Os resultados foram publicados no periódico Preventive Medicine.

Como eu sempre digo aqui, cuidar do sono do adolescente é um esforço que ajuda na prevenção de uma série de problemas de saúde física e mental. É, também, um investimento para o futuro, já que pode ter impacto direto no desempenho acadêmico dos jovens.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.