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Jairo Bouer

Fotos que você publica no Twitter podem revelar se você está deprimido

Jairo Bouer

15/05/2019 21h02

Crédito: iStock

Você é capaz de saber se uma pessoa está de mal com a vida pelo modo como ela se comporta nas redes sociais. As palavras usadas num post, por exemplo, podem dar pistas importantes sobre o humor das pessoas, e até as imagens escolhidas para a publicação podem sinalizar um problema emocional.

Pesquisadores descobriram que usuários do Twitter que sofrem de depressão ou ansiedade são mais propensos a postar fotos com cores menos vivas, especialmente em tons de cinza. As imagens publicadas também tendem ter menos valor estético, ou seja, menos detalhes como profundidade, luz e simetria.

O estudo, feito por uma equipe da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, ainda trouxe outro dado interessante: em vez de exibir mais emoções negativas, os usuários com esses transtornos tendem a suprimir as emoções positivas. Em vez de aparecer triste ou com a testa franzida na foto de perfil, portanto, a expressão é apenas séria.

A equipe chegou a essas conclusões após analisar  imagens postadas por mais de 4.000 usuários do Twitter que consentiram em participar da pesquisa. Do total, 887 completaram questionários para que fosse identificados sinais de depressão e ansiedade. Os resultados serão apresentados em uma conferência internacional da Associação para o Avanço da Inteligência Artificial (AAAI, na sigla em inglês), em junho.

No ano passado, os mesmos pesquisadores divulgaram um estudo em que mostravam ser possível diagnosticar a depressão até três meses antes de um diagnóstico só com o rastreamento de certas palavras-chave utilizadas nos posts.

Como a relação entre sintomas depressivos e padrões de uso de linguagem já é bem estudada, eles decidiram se concentrar, desta vez, nos aspectos visuais. Isso pode ser um detalhe a mais que trará mais precisão nos algoritmos para rastreamento de transtornos, de acordo com os autores, liderados pelo pesquisador Sharath Guntuku.

Além de postar mais fotos marcadas por tons de cinza que os ansiosos, os usuários deprimidos também apresentaram uma tendência maior a publicar fotos em que estavam sozinhos, sem amigos ou parentes. Outra observação é que atividades de lazer ou hobbies raramente aparecem como tema das imagens desses usuários. É que a depressão muitas vezes acompanha uma certa apatia ou falta de prazer em atividades que, para outras pessoas, seriam encaradas como algo bacana para exibir na rede.

Os pesquisadores acreditam que, no futuro, esse tipo de ferramenta terá validade no diagnóstico e tratamento de transtornos mentais. Uma evolução do diário que muitos pacientes são estimulados a preencher e levar para o terapeuta, que poderia até gerar avisos automáticos para o médico em situações de perigo. Mas claro que tudo isso só pode ser feito com a permissão dos usuários.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.