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Jairo Bouer

Jovens estão mais perfeccionistas e isso não é nada bom

Jairo Bouer

19/02/2019 21h15

Crédito: Fotolia

Se alguém te pedir para citar algum defeito na entrevista de emprego, diga que é perfeccionista. O conselho já se tornou batido, mas não dá mais para duvidar de quem usa a resposta. Estudos têm mostrado que o nível de perfeccionismo aumentou bastante entre as novas gerações e essa epidemia traz consequências graves para a saúde mental dos jovens.

Um grupo de pesquisadores das universidades de York St John, no Reino Unido, e Dalhouse, no Canadá, estuda esse tema há bastante tempo e, no início deste ano, publicou novos resultados que confirmam a tese. A equipe analisou um total de 77 estudos científicos, que envolveram mais de 25 mil participantes, a maioria estudantes canadenses, britânicos e norte-americanos com idades entre 15 e 49 anos.

Os resultados mostram que, nos últimos 25 anos, houve um aumento significativo nos três aspectos do perfeccionismo: a autocrítica exagerada, o nível de exigência mais alto em relação aos outros e, ainda, a tendência achar que a sociedade tem cobrado um desempenho melhor da gente. Homens e mulheres são igualmente afetados por essa tendência, segundo os dados.

A análise descreve os três principais culpados por trás do fenômeno: os pais, que têm cobrado mais dos filhos e, muitas vezes, exageram nas expectativas projetadas neles; a cultura atual, que supervaloriza o sucesso; e, claro, as mídias sociais, que levam as pessoas a se compararem o tempo todo com as outras. Nessas plataformas, todo mundo parece bonito, feliz e bem-sucedido.

Se o perfeccionismo pode trazer alguma vantagem inicial (como, por exemplo, fazer um jovem conseguir um bom emprego), com o passar do tempo, tudo vira do avesso. Quem se impõe metas inatingíveis acaba acumulando mais fracassos, segundo a análise. E o risco de transtornos como depressão, anorexia, bulimia aumenta, bem como o suicídio.

Os pesquisadores dizem que, conforme esses jovens perfeccionistas envelhecem, eles tendem a se tornar mais neuróticos, isto é, mais propensos a emoções negativas como culpa, inveja e ansiedade. Tudo isso acaba tendo impacto em qualidades como disciplina, organização e eficiência. No fim, o feitiço se volta contra o feiticeiro.

Os especialistas alertam que está na hora de fazer um grande esforço para reduzir a pressão sobre os jovens. Eles recomendam, por exemplo, que os pais tomem cuidado com a crítica e a superproteção, e que deem mais valor ao esforço demonstrado pelos filhos, em vez de se concentrar tanto nos resultados. Outra dica é estimular, desde cedo, o espírito crítico entre os adolescentes, para que eles aprendam a questionar a suposta perfeição apresentada em novelas, anúncios e nas redes sociais.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.