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Jairo Bouer

O que homens e mulheres procuram nos aplicativos de encontro?

Jairo Bouer

02/02/2019 18h54

Crédito: Fotolia

Quem usa aplicativos de paquera como o Tinder está atrás de relacionamentos curtos, de uma só noite, ou até mais sérios. Desque que esses serviços viraram febre, uma série de estudos tem sido feitos e revelam características interessantes – e outras nem tanto, sobre o que os usuários buscam. Em todos eles, é possível perceber algumas diferenças entre homens e mulheres.

Um trabalho recente publicado no periódico Personality and Individual Differences, e que contou com mais de 640 pessoas de 19 a 29 anos de idade, descobriu que as usuárias do sexo feminino passam mais tempo nos aplicativos que os homens. A explicação dos psicólogos é que elas são mais cuidadosas na escolha de possíveis candidatos. Já eles são mais "eficientes": tomam decisões mais rápido sobre com quem marcar um encontro real. Em outras palavras, elas são mas exigentes e eles, mais ansiosos.

A gente costuma achar que homens estão mais em busca de diversão do que elas, mas a pesquisa nega que exista essa diferença: elas também querem usar o Tinder ou aplicativos parecidos para se distrair ou sair do tédio.

Mas os pesquisadores, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega, concluíram que as mulheres usam a ferramenta com mais frequência como uma forma de alimentar a autoestima. Ser procurada ou elogiada no ambiente de paquera funciona como massagem no ego, sem dúvidas, e elas procuram isso de maneira consciente, de acordo com o trabalho.

Por outro lado, um estudo anterior, da Universidade do Norte do Texas, notou que usuários do Tinder do sexo masculino tendem a ter níveis mais baixos de autoestima que não usuários. O trabalho contou com mais de 1.000 mulheres e 273 homens, a maioria estudantes universitários, dos quais 10% utilizavam o aplicativo. De qualquer forma, os usuários de ambos os sexos relataram encanações com o corpo e a aparência. A conclusão foi apresentada numa convenção da American Psychological Association há três anos.

Naquela mesma época, estudiosos da Associação Britânica de Sociologia apresentaram os resultados preliminares de uma pesquisa qualitativa com usuários do Tinder que deixou muita gente preocupada. Catorze homens afirmaram claramente que se sentiam no direito de ter sexo casual com uma garota que tivesse mentido sobre sua aparência ou modificado a foto no perfil.

Os pesquisadores, da Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido, disseram que, para aqueles entrevistados, conseguir sexo foi mais fácil e funcionou como uma compensação pela "quebra de confiança". Será que eles eram completamente honestos no perfil? O trabalho não mostrou. Mas os autores comentam que a autopromoção é algo incentivado pela cultura digital. É difícil alguém postar uma foto feia nas redes sociais. Isso, sem dúvida, leva a decepções nos encontros reais, e para ambos os sexos.

A pesquisa também apontou que, em muitos aspectos, os aplicativos de namoro parecem acentuar as normas tradicionais de gênero, em vez de promover mais igualdade. Como os relacionamentos são obtidos com mais facilidade, também podem ser descartados mais facilmente. Por isso é bom ficar atento e tomar cuidado para não se machucar.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.