Para associação, masculinidade tradicional prejudica saúde mental do homem
A Associação Americana de Psicologia (APA) acaba de lançar um guia com diretrizes para profissionais que trabalham com meninos e homens. Embora se trate apenas de um documento voltado para uma parcela de especialistas em um país diferente do nosso, a novidade reflete uma mudança de cultura e traz à tona uma série de questionamentos que ganharam destaque nas mídias sociais nos últimos meses, como o movimento # MeToo (#EuTambém).
Para a APA, a "masculinidade tradicional" tem prejudicado a saúde mental dos homens. Apesar de ainda dominarem o alto escalão das empresas e a política, eles também são responsáveis por 90% dos homicídios, nos Estados Unidos, e são as maiores vítimas de crimes violentos. São 3,5 vezes mais propensos que as mulheres a morrer por suicídio, e sua expectativa de vida é quase 5 anos menor. Os garotos são maioria entre os diagnósticos de deficit de atenção e hiperatividade, e são os que enfrentam as punições mais severas nas escolas.
O que há de errado com eles? Para os psicólogos que trabalharam no documento, a ideia de que "homem não chora" causa danos que repercutem não só na vida deles, mas na de todo mundo. A associação, que já publicou diretrizes voltadas para mulheres e meninas, bem como para minorias sexuais ou étnicas, diz que o material foi desenvolvido em 13 anos, e se baseia em mais de 40 anos de pesquisas sobre o tema.
A APA cita um estudo de 2011, que mostra o quanto esses conceitos têm impacto sobre a saúde masculina. Pesquisadores da Universidade de Rutgers descobriram que os homens criados para não demonstrar fraquezas são menos propensos a obter cuidados preventivos de saúde. Outros trabalhos ressaltam que quanto mais os homens se conformam a essas normas, mais se envolvem em comportamentos de risco, como beber muito e fumar; e mais resistem a buscar ajuda dos profissionais de saúde mental quando preciso.
Essas noções também seriam responsáveis por disseminar preconceito e violência contra minorias. Meninos e homens que não se identificam como heterossexuais ainda enfrentam níveis de pressão e hostilidade acima da média, bem como rejeição familiar.
Perder o emprego e até se aposentar pode ser mais duro para muitos homens por causa dessa ideia de que só tem valor o cara que sustenta a família, trabalha duro e empreende. Um dos especialistas da associação finaliza o artigo sobre as diretrizes com a frase "se pudermos mudar o homem, poderemos mudar o mundo".
Recentemente, o Instituto Nacional de Saúde Mental lançou uma campanha com o nome "Homens Reais, Depressão Real", não só para normalizar a busca deles por ajuda, mas também para chamar atenção para sintomas como agressividade, que podem mascarar a dificuldade de expressar emoções não aceitas no universo masculino, como tristeza ou vergonha. Por questões culturais, o transtorno se manifesta de forma diferente para eles.
Numa época em que se ataca tanto o sexismo e, ao mesmo tempo, muita gente reclama dos exageros do politicamente correto, medidas como a da APA estão longe de agradar a todos. O jornal The New York Times destacou algumas opiniões veiculadas na imprensa conservadora contra as diretrizes – para os críticos, negar certos aspectos da natureza biológica do homem pode não ser a melhor solução contra os problemas que eles enfrentam.
Lá, assim como no Brasil, é difícil discutir esse assunto sem esbarrar em questões políticas. Mas é certo que um pouco menos de pressão para ser forte, bem-sucedido, poderoso e viril faria bem à saúde física e mental de muitos homens. Da mesma maneira que mulheres ganhariam com menos exigências, como a de ser magra, cuidar bem da casa, dos filhos e ainda se destacar no trabalho como o marido.
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