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Jairo Bouer

Testemunhas de bullying na escola são mais propensos a usar drogas

Jairo Bouer

17/09/2018 19h53

Crédito: Fotolia

Testemunhar violência na escola, como agressões físicas, pode aumentar o risco de adolescentes usarem drogas, sofrerem ansiedade e até ter baixo desempenho escolar. O estudo, realizado no Canadá com 4.000 alunos de ensino médio, mostra que presenciar agressões pode ter um impacto comparável ao de sofrer bullying.

Pesquisadores da Universidade de Montreal avaliaram alunos de 13 anos que tinham testemunhado situações de violência na escola e perceberam que, dois anos depois, havia um risco mais alto de esses jovens apresentarem comportamento antissosical, sofrimento emocional e problemas acadêmicos. Os dados estão compilados em um artigo no Journal of Epidemiology and Community Health.

Um dado importante é que o banco de dados incluía informações dos alunos antes de presenciarem as situações. A equipe também comparou os resultados obtidos com os de alunos da mesma faixa etária que experimentaram diretamente algum tipo de agressão por longos períodos. Conclusão? Eles são muito parecidos.

Observar agressões físicas e porte de armas dentro da escola foi mais associado ao uso posterior de drogas e a atos de delinquência. Mas a mesma relação foi encontrada com alunos que testemunharam violência velada, como roubos ou vandalismo.

Mesmo presenciar formas menos graves de violência, como ameaças ou agressões verbais, foi ligado à propensão maior a uso de drogas, ansiedade, sintomas depressivos, menor envolvimento e participação nas atividades escolares.

O trabalho foi feito com alunos de Quebec, no Canadá, e a maioria dos estudantes que foram avaliados havia testemunhado algum tipo de violência na escola ao menos uma vez na vida. Por isso, se seu filho estuda numa escola mais cara, com crianças bem-educadas, não significa que ele está 100% protegido.

Os autores destacam que não apenas os jovens submetidos a agressões precisam de ajuda. Quem vê outro aluno ser agredido, mesmo que um colega não muito próximo, também pode ser impactado, e às vezes da mesma forma que a vítima. Outras pesquisas com estudantes já alertaram que agressores, ou bullies, também estão mais sujeitos a apresentar outros problemas de comportamento mais tarde.

Isso chama a atenção para a importância de todos os pais, e não só aqueles que têm filhos agredidos,  cobrarem das escolas e se engajarem em programas de prevenção e intervenção ao bullying. A intolerância ao desrespeito deve ser o foco de todos, pois todo mundo é afetado pelas diferentes formas de violência, inclusive as mais veladas.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.