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Jairo Bouer

Beber muito só no fim de semana também é problema

Jairo Bouer

06/06/2018 19h44

Crédito: Fotolia

Quem sente necessidade de beber até ficar alterado todo dia tem um problema sério com álcool, e não é preciso ser médico para fazer o diagnóstico. Muita gente, porém, acha que está protegido do alcoolismo porque bebe só nos fins de semana, ainda que a quantidade ingerida nessas ocasiões seja grande. Esse comportamento, tão comum, tem um nome: beber pesado episódico, e suas consequências podem ser tão graves quanto as vivenciadas pelos alcoólatras.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o termo pode ser usado para mulheres que bebem quatro ou mais doses de álcool em cerca de duas horas. Para homens, cinco ou mais. Cada dose seria equivalente a uma taça de vinho (120 ml), uma tulipa grande de cerveja (285 ml) ou um "shot" de bebida destilada (30 ml). Não é difícil ver gente que ultrapassa essa quantidade toda vez que vai encontrar os amigos no bar.

A prática é bem comum entre os jovens. Segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), levantamentos feitos em todas as capitais indicam que 25%, ou um a cada quatro, universitários têm esse hábito. Se antigamente era mais comum ver homens competindo para ver quem bebia mais, hoje estudos feitos no mundo todo alertam para o aumento da frequência do beber pesado episódico entre as mulheres.

Um estudo publicado recentemente por pesquisadores da Universidade do Mississipi, nos Estados Unidos, revela que a prática pode causar mudanças duradouras no cérebro, ainda mais nos mais jovens. A questão é que beber demais, em pouco tempo, gera uma tolerância ao álcool e, na balada seguinte, vai ser preciso beber mais para sentir o mesmo bem-estar. É um passo importante não só para o alcoolismo, mas para mortes por overdose. As conclusões foram publicadas no periódico eNeuro.

Uma outra pesquisa, feita pela Universidade de Estocolmo, na Suécia, com dados de 49 mil habitantes, mostra que beber pesado na juventude tem um impacto direto no risco de desenvolver cirrose mais tarde. A doença com frequência leva ao câncer e à necessidade de transplante.

Muita gente costuma dizer que vai pegar leve no sábado, porque já exagerou na sexta, mas o ideal seria nunca ultrapassar as quatro ou cinco doses.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.