Quando uma mulher diz “não” ela quer dizer “não”
Alguns homens tendem a confundir interesse sexual com consentimento, independente da situação, de acordo com um estudo coordenado por professores da universidades norte-americanas de Binghamton e do Estado de Nova York.
O trabalho contou com 145 estudantes heterossexuais, e foi motivado pelo crescente número de denúncias de casos de estupros no ambiente universitário. Os participantes foram expostos a uma série de cenários sexuais hipotéticos, para que os pesquisadores pudessem identificar fatores que pudessem prever o risco de uma conduta sexual inadequada.
Os pesquisadores descobriram que a forma pela qual as mulheres comunicam suas intenções sexuais – direta ou passiva – pode interferir na percepção masculina. E mitos ainda difundidos por aí, como a ideia de que quando a mulher diz "não" ela na verdade quer dizer "sim", tornam-se ainda mais forte quando as mulheres se comunicam de forma ambígua.
Mesmo assim, a recusa verbal nem sempre funciona. A equipe percebeu que é comum que os homens levem em conta algum comportamento sexual passado da mulher e confunda isso com consentimento futuro, mesmo quando a mulher diz claramente "não". Fatores como ausência dos pais e uso de álcool podem colaborar com o cenário de abuso nas faculdades, mas não explica tudo.
É curioso que, em pleno ano de 2017, ainda seja preciso educar os homens sobre como ler as respostas femininas. Mas as conclusões, publicadas no Journal of Interpersonal Violence, sugerem que sim.
Diante de diversos casos de abuso sexual relatados na mídia, e acusados falando em "tratamentos" para dependência por sexo ou pornografia, vale lembrar que mesmo essa ideia de que esse vício é comparável a outros, como o do álcool, por exemplo, ainda não é totalmente aceita, como foi ressaltado pelo Centro para Sexualidade Positiva (CPS, na sigla em inglês) e outras duas instituições formadas por especialistas em sexualidade.
Em uma reportagem do The New York Times desta semana sobre a recente onda de abusos em Hollywood, a American Psychological Association também diz que nenhum dos tratamentos existentes são baseados em evidências. Claro que existem terapias que ajudam no controle do impulso, também usados para quem é viciado em jogos de azar ou drogas. Mas tudo indica que o tema é bem mais complexo: envolve não apenas questões como empatia ou doença, mas também caráter, cultura e poder.
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