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Jairo Bouer

Tendência a inclinar a cabeça à direita ao beijar pode ser universal

Jairo Bouer

17/07/2017 19h28

Você costuma inclinar sua cabeça à esquerda para dar um beijo de língua no seu parceiro ou parceira? Então saiba que você é uma exceção. A maioria das pessoas tende a iniciar o beijo inclinando-se para a direita, inclusive os canhotos, e quem é beijado faz o mesmo, intuitivamente, segundo um estudo feito por psicólogos e neurocientistas.

Diversas pesquisas realizadas em locais públicos, em países ocidentais, já tinham indicado essa tendência. Mas para isolar o fator cultural, pesquisadores das universidades de Bath, no Reino Unido, e de Dhaka, em Bangladesh, decidiram avaliar o comportamento dos casais deste último país, já que lá o beijo de língua não ocorre em público, e também é vetado na TV e no cinema.

As equipes convidaram 48 casais para participar do experimento. Depois de se beijarem em um ambiente privado, em casa, cada um era levado para uma sala diferente e descrevia detalhes do beijo.  Mais de dois terços dos participantes inclinaram a cabeça para a direita. E os homens foram cerca de 15 vezes mais propensos a iniciar o beijo.

Comparando os resultados com os de trabalhos anteriores, os cientistas concluíram que quem é beijado tende a combinar a inclinação da cabeça com a do parceiro, de modo a evitar o movimento de espelho, algo que gera desconforto. Embora a ação seja intuitiva, existe uma decisão envolvida, pelo menos na hora de receber o beijo. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports.

Os autores do trabalho sugerem que essa tendência pode ter relação com as funções dos hemisférios cerebrais – o esquerdo, que controla o lado direito, está mais relacionado às emoções. Eles também acreditam que diferentes hormônios, como a testosterona (associada ao desejo) ou a dopamina (ligada a recompensa),  podem ser distribuídos de forma desigual pelos hemisférios, justificando o comportamento.

Os pesquisadores querem descobrir, no futuro, se a preferência pela direita na hora de beijar alguém é inata, já que a inclinação da cabeça para esse lado, de um modo geral, já foi observada até no útero. Apesar de ser um fenômeno cultural, beijar também tem a ver com os nossos neurônios, e pode dar pistas importantes sobre o funcionamento do cérebro.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.