Topo

Jairo Bouer

Crianças contrariam suas crenças para não ficar de fora, mostra estudo

Jairo Bouer

04/11/2014 15h14

© MPI f. Evolutionary Anthropology/ R. Barr

© MPI f. Evolutionary Anthropology/ R. Barr

Crianças e chimpanzés, segundo estudos, costumam seguir o grupo quando querem aprender algo novo. Mas será que eles abdicam das próprias crenças para se adaptar ao meio? Foi o que tentou descobrir uma equipe do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, em Leipzig, e da Universidade de Jena, na Alemanha.

Os pesquisadores descobriram que os seres humanos têm uma tendência a abandonar suas preferências para seguir os outros já a partir dos 2 anos de idade. Mas essa característica não é evidenciada em chimpanzés ou orangotangos.

Para o líder do estudo, o psicólogo Daniel Haun, do Mak Planck, agir em conformidade com o grupo é algo que desempenha um papel central no comportamento social humano, promovendo a diversidade cultural, um dos traços mais característicos da espécie humana.

Outros estudos já haviam sugerido que os adultos muitas vezes acompanham o grupo na hora de aprender algo, mesmo quando já têm conhecimento suficiente, só para não ficar de fora. Já os macacos não teriam essa capacidade. Por isso Haun e seus colegas decidiram fazer o teste.

A equipe ofereceu uma tarefa similar para crianças de dois anos, chimpanzés e orangotangos.  Todos tinham que jogar uma bola em uma caixa com três compartimentos. A recompensa era dada somente quando um dos compartimentos era atingido – os macacos ganhavam um amendoim, e as crianças, um pedacinho de chocolate.

Depois de passar pela experiência e se familiarizar com a caixa, cada participante via outros colegas depositarem a bola no lugar que sabiam ser o errado. E, ao jogar de novo, eram observados por esses mesmos colegas.

Os resultados revelaram que as crianças eram mais propensas a ajustar seu comportamento ao dos pares. Elas agiram em conformidade com os colegas metade das vezes, enquanto os chimpanzés e os orangotangos praticamente ignoraram seus pares e seguiram a estratégia aprendida. O curioso é que, quando eram deixadas sozinhas, as crianças jogavam a bola no lugar certo.

Haun diz ter ficado surpreso ao concluir que crianças tão pequenas já são capazes de modificar seu comportamento para evitar a desvantagem potencial de ser diferente.  Agora, ele e sua equipe vão analisar o impacto de fatores ambientais, como escolaridade e diferentes formas de criação, sobre a tendência a agir em conformidade com os outros.

É normal que as pessoas adaptem seu comportamento para se encaixar em um grupo específico. Mas vale lembrar que isso nem sempre é positivo, especialmente quando se pensa no uso de álcool e drogas.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.