Blog do Doutor Jairo Bouer http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre saúde, sexo e comportamento. Tue, 02 Jun 2020 07:00:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Maconha “pra relaxar” pode ser tiro pela culatra http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/06/02/maconha-pra-relaxar-pode-ser-tiro-pela-culatra/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/06/02/maconha-pra-relaxar-pode-ser-tiro-pela-culatra/#respond Tue, 02 Jun 2020 07:00:27 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3548

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Muita gente acredita que fumar maconha ajuda a relaxar, mas isso não é sempre verdade. A cannabis de hoje tem muito pouca semelhança com aquela usada pela “geração paz e amor”, nos anos de 1970. Há evidências até do oposto: a potência mais alta da droga encontrada por aí, hoje, pode provocar transtornos de ansiedade, entre outros problemas de saúde mental. Assim, quem aderiu à erva para diminuir as tensões ligadas ao covid-19 e o isolamento social pode se dar mal.

Um estudo publicado semana passada no Jama Psychiatry, feito com quase 1.100 usuários britânicos de 24 anos, reforça o alerta. Aqueles que usavam versões mais potentes da droga apresentaram o dobro do risco de desenvolver transtorno de ansiedade generalizada, quando comparados a quem usa uma maconha “mais fraca”.

Foi considerado como “alta potência”, no estudo, amostras de maconha com pelo menos 10% de THC. Esse composto, o tetrahidracanabinol, é o responsável pelo “barato” provocado pela erva. Diversos estudos já associaram doses mais altas de THC a problemas psiquiátricos, como sintomas psicóticos e dependência.

Há mais ou menos duas décadas, a proporção de THC encontrada nas plantas apreendidas pela polícia era de 2 a 4%. Há cerca de dez anos, a média passou a ser de 25%, e hoje existem linhagens de cannabis com 30 a 40% de THC. Se alguém na faixa dos 50 anos decidir provar um baseado para reviver a sensação que teve aos 20 anos vai perceber que a “viagem” é bem diferente.

A pesquisa do Jama indica que os usuários da maconha “mais forte” eram na maioria homens e quatro vezes mais propensos a ser dependentes da droga. Também foram mais de três vezes mais propensos à dependência de cigarro e relataram, com duas vezes mais frequência, ter usado outras drogas ilícitas no ano anterior à entrevista. Por fim, esses adultos jovens foram 29% mais propensos a relatar experiências psicóticas.

A não ser para aqueles usuários que plantam cannabis em casa e têm conhecimento científico suficiente para saber que tipo de linhagem estão usando, ou compram de produtores certificados (nos países em que a venda é permitida), a maioria das pessoas não tem ideia do que está consumindo.

Para quem acha que pode parar quando quiser, faço outro alerta. Outro trabalho publicado esses dias na Jama, uma meta-análise que envolveu mais de 23.500 pessoas, revelou que 47% dos usuários regulares ou dependentes têm sintomas de abstinência ao parar de fumar maconha. Isso é ainda mais preocupante quando se leva em consideração que boa parte dos usuários começa na adolescência.

Por tudo isso, vale o princípio da precaução, ainda mais neste período em que todo mundo já tem motivos de sobra para ficar ansioso. O uso terapêutico da maconha tem sido bastante estudado, alguns benefícios são bem conhecidos, enquanto outros ainda aguardam confirmação. Em alguns casos, a melhora é incontestável. Mas o uso medicinal é muito diferente do recreativo.

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Ensinar cidadania digital às crianças nunca foi tão importante http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/26/ensinar-cidadania-digital-as-criancas-nunca-foi-tao-importante/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/26/ensinar-cidadania-digital-as-criancas-nunca-foi-tao-importante/#respond Tue, 26 May 2020 07:00:39 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3543

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Mais de 1 bilhão de crianças em todo o mundo foram afetadas pelo fechamento de escolas por causa da pandemia. Muitas delas migraram para o ensino online e, como consequência, jovens de todas as idades têm passado muito mais tempo em frente às telas. Nunca foi tão importante discutir cidadania e segurança digital.

Um instituto internacional sem fins lucrativos chamado DQ, responsável pela publicação de um índice de segurança digital infantil, o Child Online Safety Index, preparou um kit digital de emergência para ajudar pais e educadores nesta fase difícil.

Embora alguns países tenham programas consistentes no currículo das escolas, como Espanha, Itália, Austrália, EUA, Cingapura e Coreia do Sul, muitos ainda carecem de algo parecido. Vale dizer que o Brasil nem aparece no índice deste ano (baseado em dados do ano passado), por não ter dados considerados conclusivos para a entidade.

A análise das informações referentes a 30 países mostrou ao instituto que 60% das crianças de 8 a 12 anos já sofreram com pelo menos uma ameaça cibernética: cyberbullying, dependência de jogos, comportamento sexual online de risco, reputação abalada ou acesso a fake news, entre outras. Nem todos esses jovens tiveram um prejuízo real, mas, mesmo assim, é um número enorme de indivíduos que vivenciam uma experiência negativa precocemente.

Um dos principais alertas do Instituto DQ é sobre a necessidade de capacitar pais e professores. Muitas escolas têm usado plataformas ou métodos de ensino digital que ainda não foram bem estudados. Por isso, o papel das pessoas nesse tipo de ensino ainda é essencial para que as crianças assimilem o conteúdo.

E aí é que vem o grande problema: muitos pais e professores não sabem ensinar questões básicas de cidadania digital ou privacidade. Ou por não ter informação suficiente, ou por falta de tempo. Muitos adultos percebem que os jovens são muito melhores do que eles em tecnologia, mas é importante ressaltar que essa facilidade que eles têm é apenas operacional.

Diversas pesquisas já comprovaram que o cyberbullying pode provocar pensamentos suicidas, e quanto mais jovem o indivíduo afetado, maiores os riscos. Por isso, se pais e educadores não podem mais acompanhar o que os jovens acessam na internet 24 horas, é preciso que eles estejam, ao menos, informados sobre os riscos, saibam como reagir diante de ameaças e tenham noções básicas de segurança.

Na plataforma DQWorld.net, o instituto oferece um programa (em inglês ou espanhol) com oito módulos para ensinar as crianças, e também pais e educadores, sobre habilidades como gerenciamento de privacidade, empatia digital e pensamento crítico. E também há jogos para que as crianças recebam uma pontuação de “inteligência digital” – a ideia não é reprovar ninguém, apenas uma forma de informar o quanto estão preparados, ou não, para navegar com segurança.

No Brasil, o site SaferNet também traz informações sobre segurança digital. Não seria bom que todo jovem tivesse que passar por algum tipo de teste de conhecimento antes de ganhar ou usar sozinho um tablet ou smartphone?

Esta pandemia vai deixar muitas marcas na vida de todo mundo. Mas os prejuízos podem ser ainda maiores se os pais não aproveitarem a oportunidade para mergulhar no tema da cidadania digital, junto com seus filhos. A tecnologia é uma ferramenta maravilhosa, mas é preciso usá-la com sabedoria.

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Cuidado com o impulso na hora de comprar http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/cuidado-com-o-impulso-na-hora-de-comprar/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/cuidado-com-o-impulso-na-hora-de-comprar/#respond Tue, 19 May 2020 07:00:52 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3537

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A pandemia tem modificado os hábitos de consumo e algumas tendências podem ter chegado para ficar. As compras físicas diminuíram, bem como o gasto com restaurantes e cinema, mas isso não quer dizer que as pessoas não estejam gastando dinheiro. Comprar pela internet virou necessidade para muitos, e a migração para esse novo ambiente de consumo pode trazer novas tentações para quem já tem a tendência de gastar o que não tem.

Uma pesquisa conduzida pela OnePoll, nos EUA, a pedido da plataforma de vendas Slickdeals, mostrou que os consumidores daquele país têm feito 18% mais compras por impulso por causa do isolamento social. Cerca de 25% dizem ter adquirido algum mimo para si, e 18% investiram em melhorias para casa (com o trabalho remoto, surgem novas necessidades…).

Outra pesquisa, feita pela Credit Karma, uma empresa que faz análise de crédito, indicou que 35% dos norte-americanos admitiram terem comprado algo por impulso recentemente por causa do estresse deflagrado pela pandemia.

No Brasil, dados da plataforma Mercado Livre também mostraram que a América Latina registrou um crescimento de 28% de fevereiro a março, em relação ao mesmo período no ano passado. A região sempre comprou menos pela internet que outros países, e muitos especialistas acreditam que o e-commerce deve ser incorporado de vez por esses consumidores.

Ainda que muita gente deteste a ideia de comprar produtos sem experimentar, tocar ou testar, a ansiedade costuma ser um gatilho comum para comportamentos que trazem algum tipo de prazer imediato, como comer, jogar ou beber. As compras compulsivas, chamada pelos médicos de “oniomania”, é um transtorno mental que afeta cerca de 5% da população.

Claro que nem todos que exageram nos gastos estão doentes. Existem alguns critérios para estabelecer o diagnóstico, como a preocupação excessiva com o tema, a sensação de perder o controle toda vez que compra algo, tentativas frustradas de diminuir o consumo e, o mais importante: prejuízos financeiros, emocionais e até nos relacionamentos por causa do comportamento. Se você chegou nesse estágio, é muito importante que procure a ajuda de um psiquiatra.

Se você ainda não acumula perdas, mas está preocupado com gastos recentes que foram desnecessários, aqui vão algumas dicas:

– Não gaste o dinheiro que ainda não está na sua conta. O conselho deve ser seguido sempre, mas principalmente nesta fase crítica, em que o futuro da economia é incerto

– Se você não tem controle sobre o cartão de crédito, peça ajuda para alguém de sua confiança. Faça uma lista dos itens necessários e peça para essa pessoa fazer as compras por você.

– Antes de dar o clique para concluir a compra, espere um dia ou mais. Avalie se você precisa mesmo daquele item num outro momento, depois de ter descansado ou discutido a ideia com alguém.

– Sites de notícias e redes sociais estão repletos de anúncios baseados nas pesquisas que você faz. Por isso, fica mais difícil resistir à tentação. Tente diminuir o tempo gasto na internet.

– Sono e cansaço são inimigos do autocontrole. Por isso, dormir bem, fazer atividade física regular e buscar distrações saudáveis são importantes para quem precisa vencer alguma tentação.

Para saber mais:

https://www.prnewswire.com/news-releases/americans-increased-impulse-spending-by-18-percent-during-the-covid-19-pandemic-according-to-new-survey-commissioned-by-slickdeals-301055530.html

https://www.creditkarma.com/insights/i/coronavirus-stress-spending-survey/

https://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2020/05/04/pandemia-acelera-compras-online-na-america-latina.htm

https://www.proamiti.com.br/comprascompulsivas

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Covid-19 pode trazer novo tempero à paquera online http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/09/covid-19-pode-trazer-novo-tempero-a-paquera-online/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/09/covid-19-pode-trazer-novo-tempero-a-paquera-online/#respond Sat, 09 May 2020 17:32:23 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3532

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A vida dos solteiros que estão em busca de parceiros nas redes sociais e aplicativos não está nada fácil desde que a pandemia começou. Sem bares, boates, eventos esportivos, restaurantes e shows fica muito mais difícil marcar o primeiro encontro em local público –essencial para a segurança de quem usa a internet para conhecer gente. Contatos íntimos, então, por enquanto, nem pensar. Preservar a saúde é fundamental nesse momento grave!

Usar a web para paquerar já é um comportamento assimilado pela nossa sociedade. Cerca de um terço de todos os casamentos norte-americanos já se deve à internet, segundo um grande estudo publicado em 2018 pelos pesquisadores Josue Ortega, da Universidade de Essex, no Reino Unido, e Philipp Hergovich, da Universidade de Viena, na Áustria. Entre casais homoafetivos, 70% devem sua união a sites ou aplicativos de encontro. A “discrição” da internet acaba sendo uma importante aliada para quem é mais tímido ou enfrenta preconceitos sociais na busca de um parceiro.

Uma reportagem publicada esta semana na revista The Economist mostra que aplicativos de encontros já têm oferecido produtos diferentes para atender às novas demandas da quarentena, como noites de jogos ou discotecas virtuais. O texto também diz que o app chinês TanTan registrou salto de 30% no tempo de uso no fim de fevereiro. E que, em abril, o número médio de mensagens enviadas diariamente em aplicativos como Match, OkCupid e Tinder aumentou 27%.

Apesar da aflição geral, do tesão fazendo o pessoal subir pelas paredes e da angústia pela falta de uma parceria imediata, eu acho que o balanço dessa situação pode até ser positivo, e explico por quê. Uma queixa comum dos usuários de aplicativos é que manter uma conversa mais longa com alguém é quase impossível. Alguns somem depois de trocar uma ou duas mensagens ou quando a outra parte se recusa a enviar uma imagem mais ousada. Outros querem logo marcar um encontro, e assim por diante. Com o distanciamento social, porém, não há outra saída senão passar mais tempo nas conversas “preliminares” e contatos virtuais.

Marcar uma vídeo-chamada antes de um encontro era quase impensável antes da pandemia, quase um pecado capital na ordem dos encontros imediatos. Hoje é a alternativa possível e mais segura. E isso pode ser interessante em muitos aspectos. Em primeiro lugar, é mais seguro você tentar conhecer alguém melhor antes do primeiro “date”. Em segundo, a “vídeo-call” pode evitar que duas pessoas partam logo de cara para a intimidade e se arrependam depois. Em terceiro, um bom aquecimento antes do contato real pode permitir que o casal discuta detalhes importantes, como preferências, expectativas, desejos, uso de camisinha, etc., o que pode evitar surpresas desagradáveis amanhã, numa possível “hora H”. É quase como se eu fosse pactuando, criando uma intimidade, aumentando o desejo por um encontro, uma possibilidade que na vida pré-quarentena não era a regra para boa parte desses encontros.

Se não dá para ter uma vida “normal”, de encontros e baladas, pelo menos por enquanto, é bom aproveitar para explorar outras formas de intimidade. Sem esquecer de todos aqueles cuidados com segurança que a gente deve ter ao trocar “nudes” ou tirar a roupa para a webcam, é claro.

Muita gente diz que intimidade demais tira a graça dos relacionamentos que nascem nas redes sociais e aplicativos, onde o “calor da hora” e o agir quase por impulso têm um papel importante no tesão. Mas, sem ela, a paquera também pode ficar sem tempero e sexo por sexo, com o tempo e o acúmulo de sucessivas experiências, pode causar uma sensação de “mais do mesmo”.

Quem sabe os encontros “reais” no futuro, marcados para depois que a pandemia estiver controlada, não vão ser ainda mais intensos? E será que, depois de uma longa fase isolado em casa, o que a gente vai buscar no outro não vai ser justamente a possibilidade de mais intimidade? E, finalmente, aqueles “contatinhos” que não passarem no “teste do vídeo” e na “fase do aquecimento” podem, quem sabe, render até boas e sólidas amizades para a vida. Aproveite, então, esse isolamento para exercer a criatividade também nos relacionamentos amorosos!

Para saber mais:

https://www.economist.com/international/2020/05/09/casual-sex-is-out-companionship-is-in?cid1=cust/ednew/n/bl/n/2020/05/7n/owned/n/n/nwl/n/n/NA/468836/n

https://arxiv.org/pdf/1709.10478.pdf

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O impacto da covid-19 no uso de calmantes e antidepressivos http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/04/o-impacto-da-covid-19-no-uso-de-calmantes-e-antidepressivos/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/05/04/o-impacto-da-covid-19-no-uso-de-calmantes-e-antidepressivos/#respond Mon, 04 May 2020 13:51:16 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3527

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Desde o início da pandemia do novo coronavírus, especialistas têm se preocupado com os efeitos da covid-19 na saúde mental das pessoas. Há o receio de adoecer, de perder pessoas queridas ou ficar sem dinheiro. Tem a solidão causada pelo isolamento, a rotina alterada e os conflitos agravados pela convivência mais intensa com familiares. Tudo isso tira as pessoas do equilíbrio, e alguns estudos já mostram o impacto inicial.

Nos EUA, o número de receitas de antidepressivos e medicamentos contra ansiedade e insônia aumentou 21% entre 16 de fevereiro e 15 de março, quando a  OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou a covid-19 como pandemia e já havia mais de 4 mil casos confirmados no país. Os dados são da Express Scripts, um tipo de empresa que atua como intermediária entre farmácias e planos de saúde.

Os populares calmantes (principalmente benzodiazepínicos, que no Brasil são “tarja preta”) foram o tipo de medicamento mais prescrito, com salto de 34% de um mês para outro. Para antidepressivos e indutores de sono, os aumentos foram de 18,6% e 15%, respectivamente.

Chama a atenção que mais de três quartos de todas as receitas enviadas eram para novos usuários, ou seja, pacientes que começaram a usar os medicamentos na ocasião. Isso contradiz a ideia de que o crescimento foi apenas resultado do receio que muitos médicos ou pacientes tiveram de que faltaria remédio no mercado.

É provável que o aumento registrado entre os meses de março e abril seja ainda maior, já que o período envolveu, ao mesmo tempo, a quarentena e a elevação explosiva de mortes –enquanto eu escrevo este texto, o número ultrapassa 63 mil nos EUA, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

A Express Scripts ressalta que o salto no número de medicamentos contra ansiedade e insônia é preocupante, uma vez que o país vinha conseguindo diminuir o uso deles nos últimos anos. Medidas como terapia e mudanças no estilo de vida podem evitar o consumo desses psicofármacos em muitos casos, mas tudo isso leva tempo. Um levantamento feito com 21 milhões de pessoas com seguro saúde indicou uma redução de 12%, de 2015 para 2019. Para os indutores de sono, a queda foi de 11,3% no mesmo período.

Para os antidepressivos, também indicados para casos de ansiedade e outros transtornos, porém, houve aumento de 15% de 2015 a 2019. Para adolescentes (13 a 19 anos), o salto foi de 38%, sendo que as garotas consomem duas vezes mais o medicamento que os garotos. Estudos mostram que os jovens têm sofrido mais com transtornos emocionais (o que preocupa), mas também têm buscado mais ajuda (o que é bom).

Este é um momento de exceção para todo o mundo, em especial para os EUA, que chegou a registrar mais de 2.000 mortes em 24 horas por diversos dias em abril. Essa semana, nosso novo ministro da Saúde apontou que o Brasil pode alcançar mais de 1.000 mortes por dia. Sintomas de ansiedade e depressão devem ser levados a sério, não só porque causam sofrimento e incapacidade, mas também porque interferem no autocuidado. Quem não consegue comer e dormir, ou então abusa do álcool e do fumo para obter algum alívio pode ficar mais vulnerável a infecções. E quem não consegue sair da cama não pode dar a atenção devida aos filhos ou aos pais.

Mas é muito importante lembrar que todos esses remédios possuem efeitos colaterais, e cada paciente reage de uma forma diferente. Principalmente no início do tratamento, antidepressivos podem causar sintomas como náusea, sonolência, insônia, agitação e até pensamentos de suicídio, sendo que os benefícios demoram algumas semanas para aparecer.

Drogas com efeito sedativo podem afetar a memória e a concentração, e agravar quadros de apneia do sono, o que é complicado para um idoso que vive sozinho. E misturar essas drogas com álcool ou outras substâncias pode ser muito perigoso.

A maior parte dos novos usuários desses psicofármacos tem sido acompanhada apenas por telefone ou vídeo com o médico, o que pode prejudicar a comunicação e fazer com que algum detalhe importante escape da consulta. É por isso que a participação da família e das redes de apoio (amigos e colegas próximos) é essencial, mesmo quando os contatos são feitos só com ajuda da tecnologia.

Para saber mais: America`s State of Mind Report

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Fumar nunca faz bem nem vai acalmá-lo: 5 fatos sobre maconha e coronavírus http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/fumar-nao-faz-bem-nem-vai-acalma-lo-5-fatos-sobre-maconha-e-coronavirus/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/fumar-nao-faz-bem-nem-vai-acalma-lo-5-fatos-sobre-maconha-e-coronavirus/#respond Mon, 13 Apr 2020 07:00:52 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3518

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Com o isolamento social e todas as preocupações relacionadas à pandemia, muita gente tem relatado maior desejo por álcool e outras substâncias que alteram a nossa consciência, como a maconha. Todo mundo sabe que beber demais é prejudicial à saúde, mas existem algumas informações mais ambíguas em relação à cannabis, já que seu uso medicinal é aprovado em muitos países. Por isso, é bom deixar claro que:

1. Fumar nunca faz bem As autoridades médicas têm recomendado a todo mundo que reduza ou, se possível, fique sem fumar nesse período. É que o hábito gera uma inflamação nas vias aéreas, o que afeta a capacidade de combater infecções. Estudos já mostraram que os fumantes são mais vulneráveis às complicações do novo coronavírus. O tabaco possui inúmeros componentes prejudiciais à saúde, mas isso não quer dizer que os usuários de narguilê, cigarros eletrônicos ou maconha estejam imunes ao risco. Qualquer tipo de produto inalável que envolva combustão pode causar esse tipo de inflamação.

2. Compartilhar fumo é perigoso Ao dividir um baseado ou narguilê com um amigo, ou mesmo com seu parceiro ou parceira, você pode tanto contrair quanto transmitir o vírus da covid-19 ou de outras doenças. Neste momento, tudo o que ninguém quer é ter de ir ao hospital, por isso evite o comportamento.

3. Isso não vai te acalmar Há alguns estudos sobre as propriedades de alguns compostos canabinoides no combate à ansiedade. Mas a droga que as pessoas compram por aí não passa por qualquer tipo de controle de qualidade. O fumo pode ter altíssimos níveis de THC, um componente da maconha que gera dependência e pode provocar sintomas psicóticos, como alucinações e mania de perseguição.

4. Ser honesto é importante Se você costuma fumar maconha e, por acaso, tiver que ir ao hospital por causa de sintomas respiratórios e febre, não tenha vergonha de se abrir para o profissional de saúde. A informação pode ser importante para o diagnóstico e tratamento.

5. Você pode se arrepender depois O potencial de dependência da maconha é bem menor que o de drogas como a cocaína. Mas isso não quer dizer que você não terá problemas, mais tarde, ao largar a substância. Uma pesquisa que acaba de ser publicada no periódico Jama, aliás, mostra que sintomas de abstinência podem afetar até metade dos usuários regulares ou dependentes de maconha. A análise contou com 47 estudos e um total de 23 mil pessoas.

Se você quiser saber mais sobre o assunto:

 

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Saúde mental e pandemia: o que fazer se você não está bem? http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/31/saude-mental-e-pandemia-o-que-fazer-se-voce-nao-esta-bem/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/31/saude-mental-e-pandemia-o-que-fazer-se-voce-nao-esta-bem/#respond Tue, 31 Mar 2020 07:00:54 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3512

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“Desde o pronunciamento desencontrado do Bolsonaro na semana passada, comecei a ter ataques de pânico. Fazia anos que não sentia nada parecido. Acordei à noite sentindo a cama inteira vibrando com os batimentos do meu coração. Não sabia se a falta de ar era por causa da crise ou do coronavírus!” (N., mulher, 34, Rio de Janeiro)

“Meu TOC que estava sob controle descompensou. Estou cheio de manias e rituais de checagem de novo.” (F., homem, 55, Florianópolis)

“Tenho asma e estou muito ansiosa, com medo. Cada vez que ouço as notícias, minha ansiedade e tristeza crescem. Não quero nem ir ao supermercado. Você acha que vou ficar ruim de novo?” (C, 45, mulher, São Paulo)

Um efeito colateral das incertezas da pandemia e do próprio isolamento de quase três semanas em algumas cidades é um aumento importante dos níveis de estresse e de ansiedade em parte da população. Se essa situação já é complicada para quem não tem história de transtornos emocionais e impacta diretamente a qualidade de vida, o que dizer das milhões de pessoas ao redor do globo que enfrentam ou já enfrentaram alguma dificuldade de saúde mental?

Os relatos acima são algumas das mensagens que pacientes e ex-pacientes me enviaram na última semana. Crises de ansiedade, sintomas depressivos, aumento da sensação de alerta permanente, rituais de limpeza e checagem exacerbados, descontrole dos episódios de bulimia, aumento do consumo de álcool, são apenas alguns dos sintomas que começam a explodir nos consultórios reais ou virtuais de psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas.

Incertezas sobre o rumo da pandemia, receio de adoecer ou de perder amigos e parentes, tensão constante, informações desencontradas, “fake news” alarmistas, “fake news” negacionistas, confinamento, medo de ficar sem emprego ou sem dinheiro, perda de contatos sociais, entre outros fatores, são a matéria prima desse caldo que enche a vida das pessoas de ansiedade e estresse.

Para além do aumento do sofrimento emocional e do maior risco do surgimento ou do agravamento de quadros de transtornos de ansiedade, depressão e abuso de drogas, em casos mais extremos, há maior risco de violências de diversas naturezas (abuso sexual, autoagressão, violência doméstica) e, também, de suicídio.

Como, então, lidar com nossa saúde mental em meio a esse turbilhão emocional e às agruras da vida em casa, já que romper o isolamento nesse momento não é uma opção? Vão aí algumas estratégias possíveis em meio a uma infinidade de outras possibilidades e caminhos:

1. Não existe um menu ideal de conduta para todo mundo. Cada um tem que elaborar seu próprio manual que, aliás, pode e deve ser atualizado de tempos em tempos.

2. Você é sempre o melhor termômetro! Quando perceber que não está bem, dispare o alerta! Mas os outros (amigos) podem ajudar com algumas observações sobre seu comportamento.

3. Regule a quantidade e frequência de notícias sobre a covid-19, principalmente se você percebe que a exposição está fazendo mal. De preferência sempre a fontes confiáveis de informação. Cuidado redobrado com “fake-news” e conteúdos das redes sociais.

4. Crie uma rotina, tentando ordenar as atividades do dia.

5. Tente encarar um dia após o outro. Não pense em prazos máximos e e infindáveis de quarentena.

6. Aproveite seu tempo em casa para fazer coisas que você gosta e que na correria do dia a dia não consegue realizar.

7. Tente manter atividade física regular, mesmo dentro da sua casa (algumas cidades permitem saídas para praticar exercícios, desde que sejam locais abertos e sem aglomerações)

8. Procure atividades que ajudem você a desfocar da ansiedade e da preocupação exagerada com sintomas. Ver uma série, ler um livro, meditar, fazer relaxamentos, enfim, qualquer coisa que mantenha sua concentração longe das suas preocupações.

9. Não se isole! Esse é o momento de ligar para amigos, fazer vídeo-chamadas, usar suas redes de apoio. Isolado sim, sozinho nunca!

10. Ao menor sinal de que as coisas não vão bem, peça ajuda de profissionais de saúde mental ou procure serviços de apoio, como o CVV. Boa parte deles está atendendo à distância!

11. Não tome remédios (ansiolíticos, antidepressivos) sem orientação médica, não beba todos os dias para relaxar e, também, não beba muito de uma só vez!

12. Se perceber que o isolamento está levando a um aumento de tensão com seu parceiro, tente entender como melhorar isso. Não deixe essa tensão crescer e sair do controle para tomar uma atitude!

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Coronavírus: como explicar que idosos devem ficar em casa para se proteger http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/coronavirus-como-explicar-que-idosos-devem-ficar-isolados-para-se-proteger/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/coronavirus-como-explicar-que-idosos-devem-ficar-isolados-para-se-proteger/#respond Tue, 17 Mar 2020 14:39:47 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3505

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Devido à necessidade de as pessoas ficarem em casa para se proteger do coronavírus e evitar que a doença provocada por ele se espalhe, surgiu uma questão importante. Como mostrar a pessoas com mais de 70 anos que, muitas vezes, têm dificuldade em lidar com seu envelhecimento, não gostam de admitir algumas limitações e já vivem algum grau de isolamento social que elas vão ter que passar ainda mais tempo dentro de suas casas, evitando sair na rua e ficando mais distantes fisicamente de filhos, netos e amigos?

Minha avó faz 95 esse ano. Vocês acham que ela ficou brava ou feliz quando eu disse que ela precisa dar um tempo nas voltinhas que dá em volta da sua casa? E, ainda, tomar uma série de cuidados ao receber visitas? Uma senhora de 95 anos fazendo compras nas ruas do Rio de Janeiro, em entrevista ao Fantástico do último domingo, contava que sua saúde é excelente exatamente porque sai de casa todos os dias para suas atividades rotineiras. Não duvido em nada disso!

Veja também

Pois é, apesar da dificuldade, restringir o deslocamento dos idosos, por um período que pode ir de semanas a meses, a depender da evolução da covid-19 por aqui, vai ser essencial para preservar a saúde deles e escrever uma trajetória menos agressiva do coronavírus no Brasil.

E a preocupação faz muito sentido se observarmos com atenção os números relativos às taxas de letalidade (número de pessoas infectadas que podem morrer) por faixa etária. Em menores de 50 anos, a taxa de letalidade do vírus é de menos de 1%. Com o envelhecimento, esse número aumenta progressivamente. Na faixa de 50-60 anos, ela é de cerca de 2%, na de 60-70 anos, ela se aproxima de 4%, entre 70-80 anos, ela está próxima de 8%, e a partir dos 80 anos, ela pode chegar até 15%. Na Itália, um dos países que registrou o maior numero de óbitos até agora (só nesse último domingo, foram mais de 300 em um único dia), a média de idade das pessoas que morreram é de cerca de 80 anos.

Mas números e argumentos racionais não são, em alguns casos, suficientes para mudar comportamentos, principalmente aqueles que implicam em uma mudança de hábito de vida e em um cerceamento, mesmo que temporário e relativo, da liberdade e da autonomia. E isso não acontece só com coronavírus: pense no cigarro, no açúcar, no uso regular de preservativo, só para ficar em alguns exemplos.

E não é só isso. Se sair na rua, fazer atividades de lazer, socializar, ver o mundo acontecer e ter liberdade de ir e vir traz uma tremenda sensação de bem-estar emocional para qualquer um de nós, imagine o que isso significa para uma pessoa mais velha, mais solitária (porque perdeu o companheiro ou a companheira), que não tem mais uma rotina regular de trabalho e espera a semana toda para ver filhos e netos! A rua pode ser o sopro de vida, o momento do dia que traz alegria. Não é difícil mudar isso e pedir que eles se isolem em casa? Pense no custo social e emocional dessa mudança para cada um deles!

De tanto que se falou do coronavírus nas últimas semanas, a mensagem tem chegado a quase todos. As ruas estão definitivamente mais vazias, as pessoas lavam muito mais suas mãos, temos visto menos gente se cumprimentado efusivamente com abraços e apertos de mãos, enfim os recados surtiram efeito e esse é um processo cumulativo.

Os mais velhos estão recebendo as mesmas mensagens. As repostas deles, como de todos nós, podem variar desde a negação completa que vivemos um momento que exige cuidados especiais até uma situação de pânico total. Nenhum dos dois extremos, do ponto de vista de saúde pública, é benéfico. Ao negar, eles se expõem a riscos desnecessários. Ao entrar em pânico, eles podem elevar seu nível de estresse a um estado insuportável, que prejudica sua saúde física e mental.

O melhor ponto, sem dúvida, está no meio do caminho, adaptado à realidade de cada um. Por isso é importante que a família garanta a autonomia dos mais velhos, mas reforce a preocupação com sua vida. Assim, são essenciais medidas como ficar em casa o maior tempo possível, sair apenas para o absolutamente essencial, não entrar em aglomerações (mesmo em espaços abertos), cumprimentar pessoas à distância, lavar as mãos com cuidado e frequência, e talvez a mais dura, evitar beijos e abraços de filhos e netos que circulam mais livremente pelas cidades, e que têm um risco maior de se expor ao vírus.

Algumas ideias para tornar o isolamento menos duro? Que tal fazer as compras necessárias para os mais velhos (respeitando suas escolhas), presenteá-los com livros e publicações que gostem de ler, melhorar as opções de lazer e entretenimento dentro da casa deles (internet, streaming, TV a cabo), facilitar seu acesso às tecnologias que podem aproximar digitalmente as pessoas (celulares, wifi, redes sociais, vídeo-chamadas), e talvez a mais importante de todas: mostrar que mesmo distante, você está próximo e se importa com seu dia-a-dia e sua rotina. Ouvir mais e falar menos pode ser uma excelente estratégia para se relacionar com alguém que está com suas possibilidades de deslocamento limitadas.

A conversa toda, apesar de difícil, é possível e necessária. Ouça, divida suas preocupações, respeite a autonomia e a liberdade, mas pondere sobre os riscos que eles correm. Entenda como é duro para eles alterar essa rotina, mas seja assertivo ao discutir as medidas que devem ser tomadas para preservar a saúde e a vida deles. Como a gente disse lá em cima, isso pode mudar a forma como a gente vai escrever a história dessa pandemia por aqui.

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Amor nos tempos da covid-19 é possível? Sim, mas com adaptações http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/amor-nos-tempos-da-covid-19-e-possivel-sim-mas-com-adaptacoes/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/amor-nos-tempos-da-covid-19-e-possivel-sim-mas-com-adaptacoes/#respond Sat, 14 Mar 2020 07:00:59 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3492

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Em tempos do isolamento provocado pela pandemia do covid-19 (novo coronavirus) há espaço para o amor? Pois é, na minha modesta opinião, sempre há espaço para amar, independentemente do tamanho da ameaça. A gente só tem que pensar como. Explico!

Essa última sexta feira (simbolicamente dia 13 de um ano bissexto), em que a Bolsa parecia se recuperar parcialmente do tombo de 30% do início da semana, em que o dólar voltava a se afastar dos 5 reais e, em que o país contabilizava cerca de 100 casos confirmados do novo coronavírus, pode anteceder o último final de semana de uma certa normalidade em São Paulo, como prevê um amigo infectologista, já que no próximo estaremos possivelmente perto da casa de mil casos registrados, e as pessoas vão definitivamente ficar muito mais em casa. E fico aqui imaginando como serão as noites de amor nas festas, bares e baladas.

Se uma das ideias para conter a velocidade de disseminação do vírus é evitar as aglomerações, embora essa ainda não seja a estratégia oficial adotada pelas autoridades brasileiras (a não ser para as pessoas que fazem parte dos grupos mais vulneráveis), daqui para a frente, a chance desses locais estarem cheios vai cair bastante. Grandes eventos esportivos e culturais previstos para as próximas semanas (como o Lollapalooza), em geral ótimas oportunidades para encontrar gente interessante, estão sendo cancelados ou adiados.

Em contrapartida, aplicativos de encontros e até os “contatinhos” que estavam na “fila” nas redes sociais podem ser alternativas mais seguras. Menos gente junta é menos exposição! É a tecnologia jogando ao nosso lado! Epa! Mas como fica o beijo nessa história? É lógico que beijar e fazer sexo é um momento de intimidade muito maior do que apertar a mão de alguém e, claro, se você “ficar” com alguém infectado pelo coronavírus, sua chance de se infectar também será maior. Mas isso não deve ser motivo para pânico.

Pense, você beijaria alguém que está muito resfriado ou gripado? Possivelmente não! Até porque quem está muito gripado ou resfriado dificilmente teria ânimo para sair beijando e ficando por aí. Com o novo coronavírus não é diferente. Para a esmagadora maioria das pessoas, os sintomas são muito semelhantes aos de um resfriado mais forte ou uma gripe: indisposição, febre, coriza, dor de garganta, espirros, mal-estar, dores pelo corpo.

Nesse caso, se você tem sintomas como esses, fique em casa, não vá trabalhar, evite o contato com pessoas mais velhas, não espirre ou tussa sem proteger nariz e boca com a parte interna do seu cotovelo, lave suas mãos com frequência e, esqueça, por favor, de beijar ou ficar com alguém por 15 dias. Tem tempo para tudo na vida! Duas semanas passam rápido e você vai poder botar todas suas séries em dia.

Mas nesse raciocínio faltou a questão das pessoas que podem estar infectadas e serem assintomáticas ou aquelas que ainda não apresentaram sintomas (que podem levar alguns dias para se manifestar). Nesse caso não tem muito como ter bola de cristal. Até essa semana se falava no maior risco para as pessoas que viajaram para lugares em que a pandemia está mais avançada (Ásia, Europa e EUA) ou que tiveram contato direto com quem viajou, mas agora já se fala em transmissão local, comunitária ou sustentada do novo coronavírus (pelo menos no Rio e em São Paulo), ou seja, em teoria qualquer um de nós, mesmo quem não saiu do país nas últimas semanas nem teve contato com quem saiu, poderia estar infectado.

Um aprendizado importante de epidemias e pandemias anteriores é que o pânico, a histeria, o preconceito e a desinformação são inimigos muito piores do que o vírus ou a bactéria em si. Cada um tem que ter o bom senso de se cuidar (com as orientações que vocês já estão cansados de saber), de proteger os outros membros da sua comunidade (ficando em casa caso suspeite que esteja infectado), e de não atrapalhar o acesso ao tratamento de quem realmente poderá precisar, uma menor parte da população de pessoas mais velhas e das que têm doenças crônicas, que podem evoluir para um quadro de insuficiência respiratória. De resto, é seguir vivendo. Em poucos meses, a expectativa é que a pandemia esteja superada ou, pelo menos, sob controle.

E não custa lembrar: ninguém escolhe estar com coronavírus. O vírus, não decide quem vai ser seu hospedeiro em função de idade, classe social, raça, sexo ou orientação política. Ele entra no organismo e ponto! Quem usa a doença para exercer qualquer forma de preconceito, discriminação ou violência (digital, verbal ou física) está absolutamente errado, movido por medo, ignorância ou maldade. E isso é o contrário de qualquer forma de amor e de humanidade!

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Dia Internacional da Mulher: mais saúde para todas! http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/dia-internacional-da-mulher-mais-saude-para-todas/ http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/dia-internacional-da-mulher-mais-saude-para-todas/#respond Sun, 08 Mar 2020 07:00:31 +0000 http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/?p=3489

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No Dia Internacional da Mulher, além de celebrar a data, é importante uma reflexão sobre o que poderia ser feito para garantir mais saúde e qualidade de vida para elas aqui no Brasil.

Dados do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE) mostram que mulheres vivem mais que homens. A expectativa de vida ao nascer, em 2019, para as mulheres era de cerca de 80 anos. Para os homens, 73 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta diferença similar, com 5 anos de vida a mais para as mulheres. Genética, hormônios, comportamento e hábitos de vida ajudam a explicar essa maior sobrevida feminina.

Mas não basta viver mais, há que se viver bem. E aí que entra uma série de questões que precisam ser colocadas na lupa. A realidade das mulheres mudou muito no país nas últimas décadas. Hoje, a maior parte delas enfrenta o que chamamos de “dupla jornada de trabalho”. Além do trabalho (formal ou informal), ainda recaem sobre seus ombros as ocupações domésticas e a maior parte do cuidado com os filhos, sem contar o número crescente de mulheres que chefiam lares, sem qualquer forma de suporte ou ajuda.

Essa sobrecarga interfere na saúde emocional e física. Com o acúmulo de tarefas fica mais difícil cuidar da nutrição, atividade física e obesidade, além dos controles como no caso do diabetes e da hipertensão. Não é à toa que as principais causas de morte entre mulheres seguem sendo as doenças cardiovasculares.

Esse estresse e estilo de vida menos saudável, aliados a uma cobrança bastante desigual sobre a aparência e o padrão de beleza, também impactam a saúde mental das mulheres. Os quadros de ansiedade e depressão têm frequência superior à dos homens, e vêm aumentando de forma preocupante. Mesmo entre as garotas, essa diferença é assustadora. As tecnologias, principalmente as redes sociais, têm potencializado esse fenômeno.

Viver em situação de tensão permanente também é um fator de piora da saúde física e mental. Questões banais e óbvias para os homens (como entrar em um elevador com um estranho) pode ser uma situação de ameaça e medo para muitas mulheres. Esse é um importante agravante para a qualidade de vida.

Outra questão central é o nível de violência a que essas mulheres têm sido submetidas no seu dia-a-dia. Os números de casos de violência física, assédio sexual e feminicídio atestam essa triste realidade. Em grande parte, essas agressões são praticadas dentro de suas próprias casas, por companheiros ou ex-companheiros.

Para pensar em uma mudança nesse cenário, além das ações em saúde pública específicas para mulheres, principalmente para aquelas mais vulneráveis, é fundamental centrar na questão da educação de garotos e garotas sobre como as questões de gênero recaem pesadamente sobre a vida das mulheres. Dessa forma, eles podem ser sensibilizados a pensar em como reduzir essas disparidades e reduzir os agravos à saúde feminina. Educação essa que se faz em casa, na escola e na mídia. É através da percepção e reflexão dessa realidade que podemos imaginar um futuro com mais saúde para as próximas gerações de mulheres e, claro, dos homens também.

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