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Jairo Bouer

Cinco coisas para a gente prestar atenção em 2020

Jairo Bouer

20/12/2019 16h10

Crédito: Fotolia

Fim de ano é sempre uma correria, mas sempre sobra um tempinho para fazer um balanço do que foi realizado e pensar no que ficou para o ano que vem. Em 2019, algumas notícias e perguntas de leitores chamaram atenção para alguns temas que precisamos levar mais a sério se quisermos viver num país mais saudável, física e mentalmente.

  1. Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)

No mundo todo, o aumento da incidência de algumas infecções sexualmente transmissíveis (IST) bem antigas tem preocupado as autoridades em saúde. O Ministério da Saúde divulgou, este ano, que em 2018 foram notificados mais de 158 mil casos de sífilis adquirida em relações sexuais. Isso significa que houve um aumento de 28,3% em relação ao ano anterior. A tendência reflete a falta de preocupação com o uso da camisinha. Muita gente só descobre que tem a doença quando tem complicações importantes, ou durante a gravidez, o que representa um risco para o bebê. Gonorreia, clamídia, HPV, e HIV são outras infecções que podem ser assintomáticas por algum tempo, e trazem consequências graves mais tarde. Por isso, gente, além do uso correto do preservativo, quem tem vida sexual ativa deve ir ao médico regularmente para fazer exames de rotina.

  1. Combate ao preconceito

Algumas pesquisas recentes chamam atenção para o impacto que enfrentar estigma e preconceito pode ter para a saúde mental, especialmente dos adolescentes. Um estudo norte-americano com a população LGBTQIA+ com menos de 18 anos mostrou que 70% deles sofreram bullying na escola, além de ouvir comentários negativos da própria família. Outros trabalhos mostram que o estresse gerado por esse tipo de rejeição interfere não só nos índices de depressão e suicídio, como se traduz até em maior risco de doença cardiovascular e infecções. Lutar contra o preconceito e o bullying é algo que depende de toda a sociedade, e deveria ser prioridade, também, de quem governa o país. Ninguém consegue mudar o mundo sozinho, mas se cada um fizer a sua parte, observar sua própria postura e conscientizar quem está ao seu lado, as coisas podem melhorar bastante.

  1. Prós e contras da maconha

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária deu um passo importante para facilitar o acesso dos brasileiros a produtos com canabidiol (CBD), um derivado da cannabis que não dá barato e pode ajudar pacientes com certas doenças. Estudos sobre o potencial terapêutico da substância para diversas condições continuam em andamento, mas é preciso tomar cuidado com a ideia de que o CBD é uma panaceia. Outra questão é que a divulgação do uso medicinal, além da legalização da maconha em certos países (uma medida ligada ao controle do tráfico), tem aumentado a aceitação da droga. E aí existem dois perigos importantes: o primeiro é o uso entre os jovens. Há evidência suficiente de que, para quem ainda está com o cérebro em formação, a maconha pode causar danos prolongados. O mesmo vale para grávidas que expõem seus filhos à droga – estudos recentes chamam atenção para problemas como o risco de baixo peso ao nascer e vulnerabilidade a infecções. É bom levar em conta que as drogas vendidas hoje em dia possuem níveis mais altos de THC, o composto que, diferente do CBD, pode causar problemas à saúde.

  1. Sedentarismo e obesidade

Mais uma vez, os dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico) alertam para o aumento do sedentarismo e excesso de peso no Brasil. Nos últimos 13 anos, a obesidade aumentou 68%. Hoje, quase 20% da população tem esse diagnóstico, e mais de 55% tem sobrepeso. Outra pesquisa, dessa vez da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontou que 89% das brasileiras entre 11 e 17 anos, além de 78% dos garotos da mesma faixa etária não praticam atividade física suficiente. Essas informações são muito preocupantes, já que os exercícios são fundamentais para afastar problemas de saúde física e mental. Fazer atividade regularmente protege o corpo do estresse, combate a inflamação e também melhora a auto-estima. Todo mundo precisa de mais bem-estar, por isso comece com pequenos passos. A diferença lá na frente pode ser grande.

  1. Mais educação digital, por favor

Os smartphones viraram extensão do nosso cérebro e facilitam bastante a vida da gente. Mas essa revolução tecnológica também trouxe alguns problemas complicados, como o próprio aumento do sedentarismo e de indivíduos com dependência digital diagnosticada. Para além das questões de saúde, queria destacar a necessidade de usar a internet com responsabilidade. Comentários agressivos ou ofensivos podem causar consequências sérias na vida dos outros, por isso todo mundo deve lembrar que a convivência on-line também requer cuidado e empatia. Temos visto muita gente abusar das redes sociais até mesmo durante encontros reais. O ser humano foi lapidado para ter conexões de verdade, e a tecnologia deveria ser usada para facilitar os relacionamentos, e não deixar as pessoas isoladas em casa com seus aparelhos. Minha dica para 2020 é que a gente aproveite melhor os encontros e as conversas olho no olho.

É isso aí. Ótimas festas e bom descanso. Em janeiro a gente está de volta.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.