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Jairo Bouer

Quando a rede social te deixa mal você continua nela? Não é só você

Jairo Bouer

28/08/2019 17h50

Muitos usuários de redes sociais como o Facebook e o Instagram percebem que entrar com frequência nessas plataformas gera estresse. Mesmo assim, eles insistem no comportamento e correm o risco de se tornar dependentes. A conclusão é de uma pesquisa que contou com 444 pessoas.

Pesquisadores das universidades de Lancaster, no Reino Unido, Bamberg e Erlangen-Nürnberg, na Alemanha, revelaram ter se surpreendido com a contradição – tentar se livrar do estresse ligado à rede social sem abandonar o meio que provoca o mal-estar. A equipe percebeu que muitos usuários têm esse impulso de buscar distração e alívio para o estresse causado pela rede social na própria plataforma.

Pense numa pessoa que fica ansiosa e tensa toda vez que precisa falar em público. O mecanismo natural, nessa situação, é evitar a situação na medida do possível. Mas, no final das contas, a pessoa faz exatamente o contrário: busca aquilo que lhe causa aflição todos os dias. Parece meio doentio, não é?

Essa atitude também lembra outros tipos de compulsões. Quem sofre de bulimia, por exemplo, tem uma preocupação excessiva com o peso e se sente muito culpado depois de perder o controle e consumir uma quantidade exagerada de calorias. Todo esse mal-estar, em vez de fazer a pessoa comer menos, acaba aumentando o risco de um novo descontrole diante da comida. Mais ou menos como alguns alcoólatras, que dizem buscar a bebida para aliviar o sofrimento causado pela impotência percebida diante do álcool.

A equipe de pesquisa analisou diferentes tipos de estresse causado pelo uso de mídias sociais, como a consciência de ter a privacidade invadida, a pressão gerada pela comparação constante com os amigos, a sobrecarga de informação e até o cansaço provocado pelas mudanças e atualizações constantes das plataformas.

Os pesquisadores perceberam que os usuários menos assíduos ainda eram capazes de sair das mídias ao perceberem que estavam estressados por causa delas. Eles procuravam outra coisa para fazer ou conversavam com alguém sobre o que estavam sentindo, atitudes consideradas positivas. Mas aqueles que usavam as redes com maior frequência apresentaram a tendência a mudar de atividade, mas permanecer na plataforma. Os dados saíram no periódico Information Systems Journal.

Da próxima vez que você ficar irritado ou triste com algo que você viu na rede, que tal fechar o browser e ir fazer outra coisa, em nome do seu bem-estar?

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.