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Jairo Bouer

Como evitar que os pequenos fiquem dependentes da tecnologia

Jairo Bouer

12/08/2019 19h44

Crédito: Fotolia

Quem tem filho pequeno costuma ter uma relação ambígua com a tecnologia. Por um lado, não há nada melhor para entreter a criança em situações chatas, como antes de tomar injeção ou quando os pais precisam se concentrar em  alguma tarefa doméstica. O problema é tirar a tela deles quando já deu o tempo.

Todo mundo sabe que passar muito tempo na internet não é legal para os pequenos, e uma das consequências possíveis é a dependência. Recentemente, pesquisadores da Associação Americana de Psicologia elaboraram uma escala simplificada para ajudar os pais a identificar sinais de alerta na maneira como as crianças têm usado aparelhos eletrônicos.

A ferramenta, chamada Medida de Uso Problemático de Mídia (PMUM, da sigla em inglês), foi elaborada por uma equipe das universidades do Michigan e do Estado de Iowa, e publicada no periódico Psychology of Popular Media Culture. O teste envolve os seguintes itens:

1. É difícil para meu filho parar de usar o aparelho
2. Essa é a única coisa que motiva meu filho
3. Parece que meu filho só pensa nisso
4. O tempo de tela do meu filho interfere nas atividades familiares
5. O tempo de tema do meu filho causa problemas para a família
6. Meu filho fica frustrado quando não pode usar tecnologia
7. O tempo de uso tem aumentado
8. Meu filho usa a tecnologia escondido
9. Quando meu filho está num dia ruim, a tecnologia é a única coisa que ajuda

Segundo os desenvolvedores da escala, quando ao menos três das afirmações acima são verdadeiras o uso já pode ser considerado problemático. Quatro ou cinco verdadeiras são altamente relacionadas ao diagnóstico de vício em jogos de internet, uma categoria de transtorno abordada na última versão do Manual de Diagnósticos da Associação Americana de Psiquiatria (DSM 5).

O ideal seria que os aparelhos viessem com algum mecanismo que pudesse ser controlado pelos pais e que encerrasse os jogos ou vídeos automaticamente depois de um tempo. Como se a bateria tivesse acabado. Para especialistas, a transição poderia ser bem mais tranquila se estimulada pela própria tecnologia ou, melhor ainda, desejada pela criança.

Mas a realidade é bem diferente. Uma pesquisa feita na Universidade de Washington, que analisou os diários de 28 famílias com filhos de até 5 anos de idade, revelou que quase todas sofrem com a eventual birra da criançada ao limitar o tempo de uso. E para 37% dos pais, a situação sempre acaba em briga.

Os autores do trabalho defendem a criação de ferramentas tecnológicas que ajudem os pais nessa luta diária. Enquanto isso não existe, eles dão alguns conselhos. Interromper o jogo ou o vídeo em no auge da diversão é escândalo na certa, por isso o melhor é sempre planejar direitinho o que vai ser visto e por quanto tempo antes de oferecer o aparelho para a criança. Desligar o modo de reprodução automática dos vídeos nas plataformas é outra dica deles, assim como ter rotinas bem definidas e uma atividade ou obrigação "na manga" para oferecer para a criança em troca do aparelho.

Todos esses conselhos são úteis, mas difíceis de ser implementados com crianças mais velhas. Acrescento que os pais também devem controlar o próprio uso da tecnologia, já que são o maior exemplo para os pequenos. Cada família acaba desenvolvendo seu próprio método para lidar com a questão, o importante é que algum tipo de limite seja imposto e, quanto mais cedo isso for feito, melhor. Se o problema estiver incontrolável, procure ajuda de um especialista.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.