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Jairo Bouer

Taxas de automutilação crescem, mas busca por tratamento não

Jairo Bouer

05/06/2019 18h51

Crédito: Pixabay

Você conhece alguém que já se automutilou, ou seja, causou algum ferimento no próprio corpo? Cada vez mais esse assunto tem aparecido na mídia e nas redes sociais, mas será que esse comportamento tem sido praticado com maior frequência? Na Inglaterra, as taxas de autolesão não suicida triplicaram entre 2000 e 2014, de 2% para 6% da população, segundo um grande estudo que acaba de ser publicado na revista médica The Lancet Psychiatry.

Os pesquisadores destacam outra conclusão preocupante: no mesmo período, não houve qualquer evidência de aumento na busca por tratamento para essas pessoas. Embora possa ocorrer em qualquer idade, a taxa é mais alta em jovens de 16 a 24 anos, principalmente do sexo feminino.

O impulso de se machucar é interpretado como uma forma de tentar aliviar o sofrimento emocional. Por isso os autores, de diferentes centros de pesquisa e universidades do Reino Unido, alertam que é preciso encontrar formas de ajudar os jovens a gerenciar melhor o estresse e as emoções.

Boa parte dos estudos sobre automutilação se baseiam em dados de atendimento em hospitais. Esses também indicam que o comportamento está mais frequente. Mas a pesquisa atual é considerada mais abrangente, já que a maioria das pessoas que se machuca não vai para o serviço de emergência. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas feitas quase sempre pessoalmente, em atendimentos feitos por outros problemas de saúde mental. Foram incluídos 7.243 ingleses de 16 a 74 anos de idade em 2000. A segunda fase, em 2007, contou com 6.444 pessoas, e a terceira, em 2014, com 6.477.

Em 2000 e 2007, a prevalência foi semelhante em ambos os sexos, mas em 2014 tornou-se significativamente maior em mulheres e meninas (7,9%) do que em homens e meninos (5%). No último ano do levantamento, ao se considerar o número absoluto, 19,7% das meninas e mulheres de 16 a 24 anos de idade relataram já ter se automutilado.

A justificativa dos jovens pesquisados quase sempre foi a intenção de aliviar sentimentos desagradáveis, como raiva, tensão, ansiedade ou depressão. A proporção de pessoas que procuraram ajuda médica ou psicológica após a autolesão aumentou pouco – de 51,2%, em 2000, para 59,4%, em 2014. As mulheres e meninas com o comportamento eram mais propensas a ter contato com médicos ou psicólogos que os garotos e homens.

Um estudo recente, feito nos EUA, sugere que as redes sociais podem ter seu papel nesse aumento. Um terço dos jovens expostos a posts sobre automutilação no Instagram declarou ter tentado fazer algo parecido, segundo os dados publicados no News Media & Society. É importante ficar atento a essa tendência.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.