Taxas de automutilação crescem, mas busca por tratamento não
Você conhece alguém que já se automutilou, ou seja, causou algum ferimento no próprio corpo? Cada vez mais esse assunto tem aparecido na mídia e nas redes sociais, mas será que esse comportamento tem sido praticado com maior frequência? Na Inglaterra, as taxas de autolesão não suicida triplicaram entre 2000 e 2014, de 2% para 6% da população, segundo um grande estudo que acaba de ser publicado na revista médica The Lancet Psychiatry.
Os pesquisadores destacam outra conclusão preocupante: no mesmo período, não houve qualquer evidência de aumento na busca por tratamento para essas pessoas. Embora possa ocorrer em qualquer idade, a taxa é mais alta em jovens de 16 a 24 anos, principalmente do sexo feminino.
O impulso de se machucar é interpretado como uma forma de tentar aliviar o sofrimento emocional. Por isso os autores, de diferentes centros de pesquisa e universidades do Reino Unido, alertam que é preciso encontrar formas de ajudar os jovens a gerenciar melhor o estresse e as emoções.
Boa parte dos estudos sobre automutilação se baseiam em dados de atendimento em hospitais. Esses também indicam que o comportamento está mais frequente. Mas a pesquisa atual é considerada mais abrangente, já que a maioria das pessoas que se machuca não vai para o serviço de emergência. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas feitas quase sempre pessoalmente, em atendimentos feitos por outros problemas de saúde mental. Foram incluídos 7.243 ingleses de 16 a 74 anos de idade em 2000. A segunda fase, em 2007, contou com 6.444 pessoas, e a terceira, em 2014, com 6.477.
Em 2000 e 2007, a prevalência foi semelhante em ambos os sexos, mas em 2014 tornou-se significativamente maior em mulheres e meninas (7,9%) do que em homens e meninos (5%). No último ano do levantamento, ao se considerar o número absoluto, 19,7% das meninas e mulheres de 16 a 24 anos de idade relataram já ter se automutilado.
A justificativa dos jovens pesquisados quase sempre foi a intenção de aliviar sentimentos desagradáveis, como raiva, tensão, ansiedade ou depressão. A proporção de pessoas que procuraram ajuda médica ou psicológica após a autolesão aumentou pouco – de 51,2%, em 2000, para 59,4%, em 2014. As mulheres e meninas com o comportamento eram mais propensas a ter contato com médicos ou psicólogos que os garotos e homens.
Um estudo recente, feito nos EUA, sugere que as redes sociais podem ter seu papel nesse aumento. Um terço dos jovens expostos a posts sobre automutilação no Instagram declarou ter tentado fazer algo parecido, segundo os dados publicados no News Media & Society. É importante ficar atento a essa tendência.
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