Topo

Jairo Bouer

Suicídio de jovens teve pico após lançamento de série, mostra análise

Jairo Bouer

29/04/2019 19h49

Crédito: Pixabay

Semana passada eu destaquei, aqui, um estudo sobre os impactos da série "13 Reasons Why", da Netflix, sobre os telespectadores mais jovens. Mas um novo estudo, publicado esta semana, me obriga a voltar ao tema. Segundo ele, houve 195 mais mortes de adolescentes de 10 a 17 anos de idade por suicídio que o esperado nos nove meses que se seguiram ao lançamento nos EUA, em 2017. Na faixa dos 18 anos ou mais não houve alterações significativas.

Um dos pontos que mais chama atenção nessa análise feita pelo Centro de Pesquisa e Prevenção ao Suicídio é que a série foi ao ar em março daquele ano, e o mês seguinte foi o que apresentou maior número de ocorrências num período de cinco anos consecutivos (de janeiro de 2013 a dezembro de 2017).

Os resultados deixam claro que adolescentes são particularmente suscetíveis ao chamado efeito Werther, quando uma notícia detalhada sobre o suicídio de alguém famoso faz o número de mortes disparar nos meses após a exposição.

O estudo, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, enfatiza que os criadores da série erraram ao mostrar como a personagem se mata, algo que outros estudiosos do tema já haviam comentado. Essa é uma orientação que as autoridades de saúde sempre dão à imprensa, por exemplo, ao noticiar suicídios de celebridades.

Após a divulgação do trabalho, a Netflix enviou seu posicionamento: "Nós vimos este estudo e estamos analisando a pesquisa, que contradiz outro estudo divulgado semana passada pela Universidade da Pensilvânia. É um tema de extrema importância e temos trabalhado muito para assegurar que estamos lidando de maneira responsável com essa questão sensível". 

Esse estudo publicado na semana passada, também detalhado aqui, indicou que, para certos jovens que viram as duas temporadas completas, a mensagem positiva (de combate ao bullying e ao suicídio) prevaleceu. Já para adolescentes mais vulneráveis, em especial os que viram apenas alguns episódios, a série trouxe a ideia de se matar à mente. A atual pesquisa mostra as consequências, na prática, desse efeito de contágio. Com a expectativa de lançamento de uma nova temporada em breve, é importante que os pais fiquem atentos.

*Este post foi atualizado em 01/05/2019 com o posicionamento da Netflix

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.