Topo

Jairo Bouer

Uma única dose de álcool por dia aumenta o risco de derrame, diz estudo

Jairo Bouer

10/04/2019 22h49

Crédito: Fotolia

Sabe aquela ideia de que tomar um pouco de álcool com frequência não faz mal e até pode fazer bem? Pois é, cada vez mais estudos têm colocado a hipótese em cheque. A mais recente delas alerta que até o consumo leve é capaz de aumentar o risco de o usuário sofrer um derrame.

A pesquisa chama atenção porque envolve muita gente: cerca de 500 mil chineses, acompanhados por dez anos. Além disso, os resultados foram publicados na prestigiada revista médica The Lancet. Os cientistas envolvidos são das universidades de Oxford, no Reino Unido, de Pequim e da Academia Chinesa de Ciências Médicas.

Eles descobriram que beber uma ou duas doses de bebida alcoólica por dia aumenta o risco de derrame em 10 ou 15%. Cada dose, é bom lembrar, equivale a uma taça pequena de vinho, uma garrafa "long neck" de cerveja ou um copinho de 30 ml de destilado.

Ao aplicar esses percentuais na população do Reino Unido, eles perceberam que estimular não bebedores a consumir uma tacinha de vinho todos os dias pode ser uma roubada. Até porque uma pesssoa acostumada a beber corre o risco de elevar a quantidade aos poucos. Para pessoas que bebem quatro doses de álcool quase todos os dias o risco de ter um derrame é 35%, segundo o mesmo estudo.

Os orientais foram escolhidos para esse acompanhamento porque muitos deles têm uma combinação de genes que gera uma sensibilidade maior ao álcool. A consequência é que existe uma variação alta no consumo de álcool na China. São poucas as mulheres que bebem, e um em cada três homens evita a substância porque reage mal a ela. Com isso, os pesquisadores puderam avaliar com mais precisão o impacto direto do álcool no risco de derrame, e os resultados valem para outras populações.

Alguns pesquisadores têm sugerido que o vinho, principalmente o tinto, pode ter algum efeito protetor sobre o coração. Os autores dizem que isso não pode ser dito em relação ao derrame, embora a população chinesa seja mais propensa a beber destilados e cerveja, e não tanto vinho.

A principal mensagem que fica é que se você não tem o costume de beber, não deve começar. E, para quem gosta de bebida alcoólica, a recomendação é consumir o mínimo possível, e não todos os dias. Não só por causa deste estudo específico, mas porque muitos outros já associaram o consumo moderado ao risco mais alto de certos tipos de câncer, como de próstata e de mama.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.