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Jairo Bouer

Misturar vinho e cerveja piora a ressaca? Cientistas dão a resposta

Jairo Bouer

08/02/2019 21h14

Crédito: Fotolia

Misturar cerveja e vinho piora a ressaca? Muita gente acredita que sim, e tem quem diga que o dia seguinte só é insuportável se você beber o vinho antes da cerveja. Começar com a cerveja e depois partir para o vinho não causaria tanto sofrimento depois. Será?

Antes de continuar, um aviso: não tente fazer o experimento em casa. Cientistas da prestigiada Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da Universidade Witten/Herdecke, na Alemanha, já fizeram isso pra você, num ambiente controlado e com supervisão médica. A conclusão? Eles garantem que a ordem dos fatores não altera o resultado. E mais: ficar só no vinho ou só na cerveja também não evita o mal-estar se você exagerar nas doses.

A equipe decidiu fazer o estudo porque, apesar de as pessoas beberem há milênios, ainda existem algumas perguntas em aberto sobre a ressaca. Os especialistas sabem que as causas dos terríveis sintomas que surgem quando o álcool sai do sangue incluem a desidratação e a resposta imunológica de cada indivíduo, bem como questões hormonais e metabólicas. Segundo os autores, corante e aromas parecem agravar o problema, mas ainda faltam certezas sobre a influência dos ingredientes.

O estudo contou com 90 voluntários saudáveis de 19 a 40 anos, acostumados a beber. Eles ficaram uma semana em abstinência e, então, foram divididos em três grupos: o primeiro consumiu cerveja e depois vinho; o segundo, vinho depois cerveja. O terceiro grupo, que serviu como controle, consumiu apenas vinho ou apenas cerveja. Todos ingeriram, no total, a mesma quantidade de álcool. Uma enorme quantidade, diga-se de passagem: o equivalente a 1,5 litro de cerveja e quatro taças de vinho.

Ao longo e no fim das rodadas, os consumidores foram questionados sobre o nível de embriaguez percebida. Todos passaram a noite sob supervisão médica, e beberam a mesma quantidade de água (definida de acordo com o peso corporal) antes de dormir.

No dia seguinte, os participantes foram avaliados e receberam uma pontuação de 0 a 56 de acordo com os sintomas da ressaca e sua intensidade, como sede, moleza, dor de cabeça, tontura, náusea, dor de estômago, aumento da frequência cardíaca etc.

Depois de uma semana, os sujeitos voltaram para o laboratório para beber de novo, só que dessa vez foram colocados em grupos diferentes. O objetivo era que os participantes fossem comparados entre si, mas também com eles próprios, para que os resultados fossem mais precisos.

A pontuação não variou muito entre os três grupos, segundo o resultados publicados no American Journal of Clinical Nutrition. O mal-estar foi um pouco pior para as mulheres do que para os homens. Mas os pesquisadores disseram que não foi possível prever quem ficaria pior no dia seguinte levando em conta sexo, idade, peso, hábitos de consumo, frequência de ressaca ou resultados de exames de sangue ou urina. Os únicos fatores associados a sintomas mais intensos no dia seguinte foram vômitos e embriaguez percebida. Ou seja: se você perceber que ficou bêbado e "chamar o Hugo", pode ter certeza que vai acordar muito mal.

Os autores acreditam que a ressaca tem pelo menos um aspecto positivo: serve de lição e ajuda as pessoas a mudarem seu comportamento no futuro. Infelizmente, algumas não aprendem com o erro e voltam a exagerar. O álcool em excesso não só prejudica a saúde, como também aumenta o risco de acidentes, violência, sexo desprotegido e constrangimento no dia seguinte. E lembre-se que dirigir ou operar máquinas de ressaca é perigoso.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.