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Jairo Bouer

Autoridades britânicas cobram mais ações de redes sociais contra suicídio

Jairo Bouer

04/02/2019 21h46

Crédito: Fotolia

Um levantamento preliminar do governo britânico indica que a taxa de suicídios de adolescentes de 15 a 19 anos quase dobrou nos últimos oito anos naquele país, embora tenha diminuído entre outras faixas etárias. A informação foi divulgada no último domingo pelo jornal The Times, ao repercutir a acusão feita pelo pai de uma garota de 14 anos que tirou a própria vida "com ajuda do Instagram", nas palavras da família.

O assunto foi abordado nos principais meios de comunicação do Reino Unido: Ian Russel, que perdeu a filha, Molly, em 2017, revelou que a jovem teve acesso a imagens perturbadoras na rede social antes de tomar a decisão. Segundo o pai, faltam mecanismos eficazes para bloquear fotos desse tipo, que incentivam o suicídio e a automutilação.

A reportagem do The Times fala em "geração suicida", ao revelar que a taxa de suicídios de adolescentes passou de 5 por 100 mil no ano passado, sendo que em 2010 era de 3 em 100 mil. Especialistas destacam a influência das mídias sociais nesse aumento e representantes do governo britânico dizem que as empresas da tecnologia têm o dever moral de agir contra esse tipo de conteúdo. Eles chegam a mencionar uma possível regulação, caso isso não aconteça.

Alguns estudos têm mostrado a relação entre tempo de tela e o risco mais alto de depressão, ansiedade e ideação suicida. Outros indicam que muitos jovens, antes de decidir por tirar a própria vida, consultam sites ou páginas que incentivam o suicídio. O Instagram têm se defendido nas reportagens e diz que já existem algoritmos para eliminar conteúdos impróprios, mas que nem tudo sobre o tema pode ser eliminado porque o compartilhamento de histórias também ajuda usuários em recuperação.

No Brasil, o CVV (Centro de Valorização da Vida – www.cvv.org.br) tem feito parcerias com as principais plataformas para que os usuários sejam direcionados para a sua página ao buscar temas relacionados a suicídio ou automutilação. O centro oferece atendimento 24 horas por e-mail, chat, carta ou telefone, com total sigilo, além de dicas para quem quer ajudar um amigo ou familiar. Existem iniciativas semelhantes no Reino Unido e em vários outros países.

Mas é preciso fazer mais. As empresas precisam exercer sua responsabilidade social, mas também é preciso que temas como vergonha, medo, desesperança, depressão e suicídio deixem de ser um tabu e sejam discutidos por todos; em casa, na escola, no trabalho, no consultório médico etc. Só assim os jovens vão saber que existe solução para o sofrimento delas.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.