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Jairo Bouer

Usar tempo em frente às telas como recompensa não é boa ideia

Jairo Bouer

09/01/2019 23h53

Crédito: Fotolia

Deixar uma criança passar mais tempo em frente às telas como prêmio por bom comportamento, ou cortar o privilégio quando ela faz algo de errado são atitudes que muitos pais adotam quase de forma instintiva. Mas pesquisadores canadenses avisam que o tiro pode sair pela culatra.

Segundo um estudo da Universidade de Guelph, utilizar a permissão para usar tablets, computadores, smartphones ou mesmo assistir à TV como recompensa ou punição faz com que as crianças acabem utilizando  esses aparelhos por mais tempo.

Os pesquisadores comparam o fato ao que acontece com a fissura por doces. Quando a criança é estimulada a limpar o prato de salada só para ganhar uma sobremesa cheia de açúcar, ela passa a dar muito mais valor para a guloseima do que deveria.  Tudo aquilo que soa como recompensa gera mais prazer, o que pode incentivar a compulsão.

O trabalho envolveu 62 crianças, acompanhadas dos 18 meses aos 5 anos de idade, bem como os pais delas. Essa fase da vida dos pequenos foi escolhida porque é fundamental para definir hábitos e rotinas.

Os resultados mostram que, em média, as crianças passam quase uma hora e meia em frente às telas durante a semana e pouco mais de duas horas por dia nos fins de semana. Já os pais tendem a passar duas horas por dia, em média, durante a semana, e pouco mais de duas horas e meia por dia nos fins de semana.

A equipe descobriu que as crianças cujos pais usavam o tempo em frente às telas como recompensa ou punição passavam 20 minutos a mais por dia, nos fins de semana, usando aparelhos eletrônicos em comparação com as que não tinham esse tipo de regime em casa. E a maioria dos pais faz isso, de acordo com o artigo publicado na revista BMC Obesity.

O tempo em frente às telas também foi maior entre os filhos que podiam usar aparelhos eletrônicos ou assistir à TV durante as refeições. Para os pesquisadores, muitos pais liberam o comportamento porque elas próprias querem fazer isso, o que é perigoso.

Passar tempo demais em frente ao computador ou à TV aumenta o risco de obesidade. Além disso, pode interferir nas habilidades acadêmicas e sociais das crianças mais tarde. É difícil resistir à tentação de acessar as redes sociais, trocar mensagens ou ler alguma notícia quando tudo isso está ao alcance das mãos, mas vale a pena fazer um esforço para dar bom exemplo aos filhos.

Você pode deixar para mergulhar no smartphone quando as crianças estiverem na cama, mas não exagere. Esses equipamentos prejudicam o sono e, para quem tem filho pequeno, descanso é fundamental.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.