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Jairo Bouer

Bullying crônico muda o cérebro do adolescente, mostra estudo

Jairo Bouer

12/12/2018 20h29

Crédito: Pixabay

Os efeitos psicológicos do bullying crônico são bem conhecidos pelos especialistas em saúde mental: depressão, baixa autoestima, abuso de drogas e até pensamentos sobre suicídio são problemas enfrentados pelas vítimas. Mas há indícios de que a humilhação também deixe marcas físicas: mais especificamente no cérebro.

Uma equipe coordenada por Erin Burke Quinlan, do King`s College, de Londres, descobriu que garotos humilhados ou agredidos de forma crônica ao longo da adolescência chegam aos 19 anos de idade com alterações visíveis em sua estrutura cerebral. E essas mudanças aumentam o risco de transtornos mentais, segundo os pesquisadores.

O trabalho contou com 682 adolescentes de quatro países da Europa, que responderam a questionários em três épocas diferentes: aos 14, 16 e 19 anos de idade. Eles também foram submetidos a exames de escaneamento cerebral de alta resolução aos 14 e aos 19 anos.

Do total da amostra, 36 adolescentes foram classificados como vítimas crônicas de bullying, e apresentaram diferenças no volume do cérebro quando seus exames foram comparados aos de jovens que foram vitimados ocasionalmente, ou sem muita gravidade. Além disso, esses adolescentes foram diagnosticados com níveis mais elevados de depressão, ansiedade e hiperatividade.

Os resultados, publicados na revista Molecular Psychiatry, indicam que o bullying pode gerar uma redução no volume de duas áreas do cérebro, chamadas de putâmen e núcleo caudado, envolvidas em comportamentos como condicionamento, atenção, sensibilidade à recompensa, condicionamento, motivação e processamento emocional. Isso poderia explicar o aumento da ansiedade observado nos jovens com essas alterações.

Os autores consideram preocupante que, segundo as estatísticas, até 30% dos adolescentes enfrentam algum grau de bullying. Apenas a minoria passa por essa situação todos os dias, mas essa exposição crônica ao medo ou à vergonha podem ser muito graves numa época que é marcada por um desenvolvimento cerebral profundo.

Estudos recentes têm mostrado que, do fim da infância ao início da idade adulta, o cérebro passa por uma espécie de "poda" – é como se o tamanho fosse substituído por eficiência. Talvez por isso é que há mudanças de personalidade importantes adolescência, o que, até então, vinha sendo atribuído a mudanças hormonais.

Já sabemos que álcool e drogas também são capazes de afetar o cérebro em desenvolvimento dos adolescentes, e por isso os esforços dos especialistas são no sentido de adiar o máximo possível a exposição a essas substâncias.

As consequências psicológicas do bullying já constituem razões suficientes para se investir em programas de prevenção. Mas imagens do cérebro podem ter um peso maior para quem ainda acha que esse é um problema de menor importância.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.