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Jairo Bouer

Não deixe o mês de dezembro acabar com seu humor ou relacionamento

Jairo Bouer

10/12/2018 22h09

Crédito: iStock

Todo fim de ano é a mesma história: alunos penam com provas e trabalhos, pais enlouquecem com as notas dos filhos, o bolso sofre com presentes ou viagens, e as festas de confraternização alteram a rotina, o sono e a balança.  O resultado inevitável é o estresse e, com ele, podem vir conflitos e emoções negativas.

Um levantamento recente, que contou com 2.000 norte-americanos, mostra que 88% das pessoas se sentem sobrecarregadas nesta época do ano e que os casais têm, em média, sete discussões ou brigas durante a temporada. Os principais motivos para as desavenças são: onde passar as Festas (citado por 35% dos entrevistados), quanto gastar em presentes (31%), e com qual família celebrar (29%). Até a responsabilidade pelas ceias ou pela louça entram na lista dos atritos comuns entre marido e mulher ou namorados.

A pesquisa, conduzida pelo instituto OnePoll e, veja só, patrocinada por um fabricante de remédio para azia, ainda mostra como a época é propícia para climas de tensão entre parentes. Mais da metade dos participantes (56%) admite que precisa se esforçar para ficar quieto e evitar discussões com alguém da família. A lista de assuntos mais evitados é, claro, política (68%). Em seguida aparecem comentários sobre a vida pessoal de alguém (55%) e religião (47%). No Brasil, depois do clima tenso registrado nas eleições presidenciais, é provável que muita gente tenha que aumentar a vigilância para evitar um novo mal-estar.

Se as pessoas tendem a brigar mais porque estão mais cansadas e sensíveis, as próprias discussões acabam virando motivo de estresse. Para piorar tudo, além da tensão de sobra, há outros excessos que só agravam o clima. Até quem evita o álcool acaba cedendo a uma taça para comemorar, e a bebida deixa todo mundo mais desinibido e propenso a falar ou fazer o que não deve.

O levantamento americano indica que 85% exageram na comida nas Festas, sendo que metade dos entrevistados admite que até se veste com roupas um pouco mais largas e confortáveis para não ter que abrir o botão da calça depois de jantar. Para quem sofre para se controlar diante de guloseimas, toda essa fartura acaba sendo mais um motivo de estresse e frustração do que motivo para celebrar.

Um estudo feito há alguns anos pelo International Stress Management Association no Brasil, com 678 entrevistados, indica que, por aqui, o nível de tensão aumenta cerca de 75% no mês de dezembro. Excesso de compromissos, trânsito, lojas lotadas e estouro do cartão de crédito estão entre as principais causas de sofrimento.

Outro levantamento mais antigo feito nos EUA, pelo Consumer Reports National Research Center, também destaca o efeito deletério das filas para os nervos (mencionada por 68% dos 1.000 entrevistados), e menciona outras fontes de irritação que parecem bobas, mas nem tanto: as canções repetitivas de Natal (23%), as gorjetas (12%) e a obrigação de ser gentil com os outros (15%).

Muita gente ainda considera a época complicada porque faz lembrar de pessoas queridas que já se foram. Jovens que acabaram de enfrentar a separação dos pais costumam se sentir tristes ou aflitos ao ter que deixar um dos dois de lado durante as celebrações. E há quem fique chateado ao fazer um balanço do ano e ver que certas coisas não mudaram para melhor.

Dá para evitar o trânsito, as filas, os gastos e a saudade? É difícil. Certos compromissos sociais também são inevitáveis, por isso o melhor a fazer é deixar temas polêmicos de lado mesmo e, na medida do possível, cercar-se de quem você gosta. Por mais que seja difícil arrumar tempo, praticar alguma atividade física, evitar álcool em excesso e dormir bem são medidas que interferem no humor mais do que você pode imaginar. Por último, tente não se cobrar demais: toda família tem problemas, todo mundo tem fraquezas e, se não deu para realizar um sonho ou meta em 2018, ainda tem o ano que vem pela frente.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.