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Jairo Bouer

Tímidos que bebem têm "efeito rebote" no dia seguinte, sugere estudo

Jairo Bouer

07/12/2018 21h57

Crédito: Fotolia

Quem abusa da bebida costuma acordar com muita dor de cabeça, enjoo e, muitas vezes, alterações de humor e a famosa "ressaca moral", por ter feito algo que não devia enquanto estava embriagado. Para quem é muito tímido, porém, esse mal-estar emocional vem com mais força ainda, segundo uma pesquisa.

Pessoas que sofrem de ansiedade social, ou seja, timidez patológica, com frequência utilizam o álcool ou outras drogas como uma espécie de automedicação, para se sentir menos inibidos em situações de exposição, como festas ou mesmo no trabalho. Por isso, essa população costuma ser um grupo de risco para o consumo abusivo de bebida alcoólica.

Pesquisadores das universidades de Exeter e da College London, no Reino Unido, decidiram avaliar os efeitos da substância em 100 pessoas diferentes graus de ansiedade social e descobriram que sim, a bebida é capaz de ajudar os mais tímidos a relaxar. O efeito foi notado após o consumo, em média, de seis unidades de álcool, o que seria o equivalente a seis tulipas de cerveja – uma quantidade bem acima do beber com moderação.

No entanto, esse relaxamento para os mais tímidos foi substituído por um aumento considerável no nível de ansiedade no dia seguinte, em comparação com os mais extrovertidos. É praticamente um efeito rebote, de acordo com os autores, em alguns casos debilitante.

Os pesquisadores também descobriram que quanto maior era essa ansiedade na ressaca, maior era a pontuação dos participantes no teste que é usado para identificar transtorno de uso de álcool em indivíduos com timidez patológica.

Os resultados do estudo reforçam a ideia de que tratar a ansiedade social é importante para evitar problemas com a bebida, o que envolve a aceitação de que tudo bem ser mais quieto ou envergonhado que a média.

Essa relação perigosa dos tímidos com álcool ou drogas em geral costuma se instalar na adolescência, uma época em que a cobrança para ser igual aos pares é grande, bem como a dificuldade em se aceitar.

É importante que pais, amigos e os próprios jovens fiquem atentos ao problema. Nem todo adolescente que exagera na bebida vai ter um problema sério ou se tornar alcoólatra. Mas os estudos mostram que usar a substância para aliviar algum tipo de emoção negativa aumenta esse risco de forma significativa.

Trabalhar a autoaceitação e desenvolver estratégias para sofrer menos em situações de exposição social requer iniciativa e, muitas vezes, a ajuda de um terapeuta especializado. Mas tenha certeza que esses esforços são pouco se comparados aos danos que o uso abusivo de álcool pode causar.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.