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Jairo Bouer

Mídias sociais não só atraem como também fabricam narcisistas, diz estudo

Jairo Bouer

09/11/2018 19h08

Crédito: Fotolia

Indivíduos narcisistas encontraram nas redes sociais o ambiente perfeito para exibir suas fotos, opiniões e reafirmar sua sensação de grandiosidade. Sobre isso não há qualquer dúvida. Mas será que as redes sociais são capazes de modificar a personalidade das pessoas, fazendo com que se tornem narcisistas por causa da exposição na internet? Um pequeno estudo indica que sim.P

esquisadores da Universidade de Swansea, no Reino Unido, e de Milão, na Itália, decidiram acompanhar 74 pessoas com idades entre 18 e 34 anos, por quatro meses, e avaliar se houve mudanças na personalidade. Eles verificaram que a presença excessiva nas mídias sociais levou a um aumento médio de 25% nos traços de narcisismo ao longo do período.

Os participantes acompanhados utilizavam as principais mídias sociais. O Facebook era usado por 60% da amostra, 25% usavam o Instagram e 13%,  o Twitter e o Snapchat. Mais de dois terços dos participantes utilizavam as plataformas principalmente para postar imagens. O tempo médio de uso dos participantes era de cerca de três horas ao dia para fins não relacionados ao trabalho. Mas alguns deles chegavam a acessar as mídias por até oito horas ao dia.

O narcisismo é uma característica da personalidade que envolve exibicionismo e crenças relacionadas a superioridade, como a ideia de que, por ser superior, a pessoa teria direito a alguns privilégios, ou a explorar os outros de alguma forma. Você provavelmente conhece algumas pessoas assim. Quando esses sintomas chegam a atrapalhar a vida do próprio indivíduo ou dos outros, dizemos que a pessoa tem um transtorno de personalidade narcisista.

Durante o estudo, os pesquisadores perceberam que muitos dos participantes passaram a ter uma pontuação condizente com o transtorno. Essa tendência foi associada não só ao uso excessivo das mídias sociais, como também a um número maior de postagens visuais.

Os indivíduos que preferiam mídias mais voltadas para texto, como o Twitter, não apresentaram tanta alteração. Mesmo assim, os pesquisadores notaram que, para esse grupo de usuários, quanto maior era o nível de narcisismo no início do estudo, maior era a frequência de posts verbais no final.

Os autores acreditam que a ausência de censura imediata e direta da internet deixa o espaço livre para o desenvolvimento dos traços narcisistas, algo que não aconteceria na vida real, com o contato face a face. As conclusões estão no periódico The Open Psychology Journal.

A pesquisa é pequena, mas não é a única a demonstrar os prejuízos das mídias sociais à saúde e ao bem-estar. Muitos médicos e psiquiatras inclusive têm recomendado aos pacientes que limitem o tempo de uso das plataformas. Pensar que até a personalidade de alguém pode se modificar com elas é assustador.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.