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Jairo Bouer

Transição do uso regular para o problemático do álcool é rápida, diz estudo

Jairo Bouer

31/10/2018 12h32

Crédito: Fotolia

Quantas pessoas que você conhece consomem bebida alcoólica, nem que seja só um espumante nas festas de fim de ano? E entre os seus conhecidos, quantos você diria que têm algum problema com o álcool? Se você comparar os números, verá que existe uma diferença grande. Só uma parcela dos consumidores frequentes desenvolve algum transtorno relacionado ao álcool, embora muita gente demore para perceber o problema e assumi-lo para os outros.

Mas um estudo recém-publicado mostra que a transição do consumo eventual para o abuso de álcool pode ser mais rápida do que as pessoas imaginam. Além disso, quanto mais frequente é o consumo numa população, ou seja, quanto maior a base de indivíduos em risco, mais cedo os transtornos tendem a aparecer. Isso é preocupante, uma vez que dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para o aumento do uso de álcool em diversas regiões do globo.

O trabalho, publicado no periódico Alcohol and Alcoholism, contou com 13 mil indivíduos da Nova Zelândia, acompanhados por diversos anos. Do total, 94,6% já tinham bebido e 85% bebia com regularidade. Transtornos relacionados ao álcool, como abuso ou dependência, foram identificados em 16% de todos os participantes, o que é um número considerável.

O dado que os autores consideraram mais preocupante, porém, é que, para cada aumento de 10% no número de pessoas que usavam álcool com regularidade em cada grupo dividido por faixa etária e gênero, maior a probabilidade de surgirem transtornos associados à bebida no ano seguinte.

Entre os jovens, uma população para a qual a influência dos pares no consumo é ainda mais forte, segundo evidências científicas, a maioria passou do uso eventual para o uso problemático em pouco tempo. Aos 18 anos, quase 80% bebiam às vezes e 57%, regularmente. Daqueles que desenvolveram um transtorno, 50% passaram a ter o problema aos 20 anos de idade e 70%, aos 25 anos.

Outro achado importante dos pesquisadores é que os transtornos foram duradouros – 45% das vítimas ainda preenchiam os critérios diganósticos dez anos depois. Os homens, em geral, foram mais propensos ao problema e também os que tiveram mais dificuldade para vencê-lo mais tarde.

Na Nova Zelândia, o consumo de bebida não é tão alto quanto na Europa, mas é um pouco mais alto que no Brasil, segundo o ranking da OMS. Aqui, a média é de 7,8 litros por pessoa por ano, acima da média mundial, de 6,4 litros. E a entidade alerta que até 2025 a taxa vai subir para 8,3 litros. Com mais gente bebendo mais, os transtornos serão mais frequentes.

Para os autores do estudo, coordenados pela médica Charlene Rapsey, da Universidade de Otago, está na hora de a sociedade assumir a responsabilidade, coletivamente, para reduzir os prejuízos causados pelo uso do álcool. E o esforço precisa ser concentrado na população com menos de 25 anos.

Depende das instituições a elaboração de políticas públicas de restrição à venda e propaganda de bebida, mas as atitudes de cada um também contam. Ainda que você não conheça muita gente com problemas graves por causa da bebida, você pode influenciar outras pessoas.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.