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Jairo Bouer

Nos EUA, 5% dos jovens já foram vítimas e 3% já praticaram "sextorsão"

Jairo Bouer

10/10/2018 20h27

Crédito: Fotolia

Usar fotos e vídeos de alguém fazendo sexo para fazer chantagem não é exatamente um crime novo, mas a prática ganhou uma proporção assustadora com o uso das tecnologias móveis. Um dado preocupante é que adolescentes têm sido cada vez mais envolvidos nessa ameaça, que tem sido chamada de "sextorsão" (do inglês "sextortion", uma mistura de "sexo" e "extorsão").

Um estudo recém-publicado nos Estados Unidos mostra que 5% dos jovens de 12 a 17 anos já foram vítimas desse tipo de situação. E o pior: 3% admitem que já fizeram isso com alguém, ou seja, já ameaçaram divulgar imagens íntimas para obter algo em troca, como dinheiro, favores sexuais ou mais imagens. O levantamento contou com 5.548 estudantes.

Na América do Norte, esse assunto ganhou forte destaque em 2012, após o suicídio de uma garota de 15 anos que tinha sofrido bullying na internet associado a chantagens feitas com fotos íntimas dela. No Brasil também existem registros desse tipo de crime, tanto que a ong SaferNet possui um site específico com orientações sobre como agir nesses casos.

A pesquisa norte-americana trouxe um dado inesperado para os autores: eles observaram que há mais garotos do que garotas envolvidos em sextorsão, inclusive como vítimas. Já no Brasil, segundo dados da ong SaferNet, meninas e mulheres são maioria.

Outra descoberta do estudo é que jovens não heterossexuais são duas vezes mais propensos a ser chantageados. Também não é incomum que vítimas passem a chantagear e vice-versa. Por último, a maioria dos casos envolve pessoas conhecidas, como paqueras ou colegas de escola. É na base da confiança que as imagens são obtidas.

A abordagem à vítima acontece de diferentes maneiras: a pessoa é perseguida ou ameaçada pessoalmente (para 9,7% dos garotos e 23,5% das garotas), é procurada por telefone ou pela internet (para 43% dos garotos e 41% das garotas), ou o chantageador cria um perfil falso nas redes sociais para fazer as ameaças (11,2% deles e 8,7% delas).

Para 24,8% das vítimas do sexo masculino e 26% do sexo feminino, as imagens acabam caindo na internet, o que em alguns casos também pode ser chamado de pornografia de vingança (do inglês "revenge porn"). Proporções semelhantes se referem a casos em que a imagem vai parar na mão de um terceiro.

A pesquisa americana ainda mostrou que poucas vítimas relataram o ocorrido para os pais. Quando acontece, é mais comum que as garotas façam isso. Poucas também recorrem às centrais de denúncia das plataformas digitais envolvidas.

Por mais que seja empolgante trocar fotos sensuais durante a paquera, é preciso ter consciência de que, infelizmente, não dá para confiar em qualquer pessoa. Ainda mais se quem pede imagens é um amigo virtual. Mas, se alguém te chantagear, não se culpe. Salve todas as provas, peça ajuda e não tenha medo de denunciar. O SaferNet Brasil tem um canal com equipe especializada para dar orientações: www.helpline.org.br

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.