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Jairo Bouer

Não se esqueça: o álcool também afeta a sua memória

Jairo Bouer

21/09/2018 20h03

Crédito: Fotolia

Para muita gente, fim de semana é sinônimo de beber, seja qual for a situação. Para muitas dessas pessoas controlar quantidade nunca foi uma preocupação, já que o hábito está limitado a certas ocasiões. Por isso mesmo, elas não sabem direito se costumam virar quatro ou oito latinhas de cerveja numa festa. Nem se lembram quantas caipirinhas ou taças de vinho tomaram na última, por causa do próprio efeito do álcool na memória.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), homens que bebem cinco ou mais doses de álcool em um intervalo aproximado de duas horas, bem como mulheres que bebem quatro ou mais doses nesse mesmo período de tempo, são considerados bebedores pesados episódicos. Em inglês, a prática é chamada de "binge drinking". Por "dose" entenda-se uma tulipa grande de cerveja (285 ml), uma taça de vinho pequena (120 ml) ou 30 ml de destilado.

Uma das principais consequências de se beber muito e rápido obviamente é a embriaguez. Em jovens que fazem isso de estômago vazio, é pedir para ter o chamado "apagão" – no dia seguinte, a pessoa não lembra muito bem o que fez ou falou na noite anterior. O fenômeno existiu sempre, mas só nos últimos anos, a partir do conhecimento obtido com exames de imagem do cérebro, é que as reais consequências desse fenômeno passaram a ser compreendidas. E as notícias não são muito animadoras.

Tudo indica que o hábito de beber bastante, mesmo que só de vez em quando, pode ter consequências importantes para os diferentes tipos de memória, o que envolve não apenas a capacidade de lembrar de fatos passados, mas também de se concentrar no presente. Nos adolescentes, que ainda estão com o cérebro em formação, isso representa uma ameaça séria ao aprendizado e à capacidade produtiva no futuro. Em português claro, essas alterações podem reduzir as chances de se conseguir um bom emprego e mantê-lo.

Em um artigo recente no site The Conversation, o professor de medicina Jamie Smolen, da Universidade da Flórida, nos EUA, explica que jovens que exageram na bebida têm um deficit de glutationa, um antioxidante que protege o cérebro dos radicais livres. Segundo ele, isso afeta a memória e o aprendizado inclusive nos períodos de abstinência. O especialista também adverte que os efeitos negativos do álcool no córtex pré-frontal podem fazer com que o adolescente tenha uma tendência maior a agir de forma arriscada para ter mais emoção no futuro, mesmo sem estar bêbado.

Os neurocientistas australianos Daniel Hermens e Jim Lagopoulos, em um estudo recente, descobriram que muitos jovens que têm apagões continuam a vivenciar o fenômeno mesmo depois que amadurecem e passam a beber com menor frequência. Talvez fatores genéticos expliquem essa vulnerabilidade. Outro trabalho, publicado no Journal of Neuroscience por uma equipe da Universidade de Columbia, diz que adolescentes que começam a beber antes dos 15 anos de idade têm mais problemas de memória ao se tornarem adultos.

Além dos prejuízos ao cérebro, sempre lembro aqui que a embriaguez traz riscos imediatos, como de acidentes, abuso sexual, gravidez indesejada e doenças contraídas pela ausência da camisinha nas relações sexuais.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.