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Jairo Bouer

Se você dorme pouco para ter vida social, é bom rever seus conceitos

Jairo Bouer

15/08/2018 21h45

Se você acha que vale a pena ficar sem dormir para ir à balada, ver gente e driblar a solidão, talvez esteja na hora de pensar se a estratégia funciona mesmo. Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, descobriram que pessoas com deficiência crônica de sono tendem a se sentir mais solitárias e menos inclinadas a se relacionar com os outros, mais ou menos como acontece com indivíduos que sofrem de ansiedade social.

Sabe o que é pior? O estudo diz que essa "vibe" faz as pessoas serem menos atraentes socialmente. Isso porque a sensação de solidão seria de certa forma contagiosa – uma pessoa que dormiu bem sente o mesmo ao se aproximar de quem está privado de sono. E aí a reação é se afastar.

Meio maluco, né? Mas os resultados da pesquisa foram publicados na prestigiada revista Nature Communications. Para os autores, que são psicólogos e neurocientistas, o conceito pode explicar a atual epidemia de solidão que afeta o mundo todo.

Indivíduos com diferentes graus de privação de sono foram submetidos a exames de imagem enquanto eram expostos a imagens de estranhos que se aproximavam deles. Os participantes apresentaram atividade em redes neurais que costumam ser ativadas quando as pessoas sentem que seu espaço está sendo invadido. Além disso, a falta de sono inibiu a atividade em regiões associadas à interação social. Os pesquisadores viram que quanto maior a falta de sono, maior a tendência à rejeição.

Estudos recentes indicam que metade das pessoas, nos EUA, sofre de solidão ou sente que foi abandonada por alguém. Já existem evidências de que essa sensação afeta a saúde e interfere na mortalidade. Quando uma pessoa fica sem comer, o organismo imediatamente aciona determinados recursos, como diminuir o metabolismo, para evitar problemas. Já com o sono não existe um mecanismo de segurança desse tipo, de acordo com os autores.  É por isso que dormir só duas ou três horas a menos já causa um efeito tão marcante na saúde física e mental.  Vale a pena pensar nisso se você quer ter muitos amigos.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.