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Jairo Bouer

Metade das garotas têm sintomas de depressão ou ansiedade, diz estudo

Jairo Bouer

25/07/2018 23h01

Crédito: Fotolia

Uma série de estudos recentes, realizados na América do Norte, têm alertado para o aumento do número de adolescentes com sintomas depressivos, ansiedade e ideação suicida. Quando se considera ambos os sexos, a proporção é de 39%, nada pequena.

Quando os pesquisadores tentam analisar possíveis mudanças nos hábitos desses jovens que possam justificar essa elevação, a suspeita costuma recair sobre a tecnologia, e não é sem motivo.

Um levantamento realizado no Canadá acaba de mostrar que metade das garotas de 12 a 17 anos daquele país apresentam sinais de ansiedade ou depressão de moderados a graves.  O trabalho, que envolveu mais de 11.400 estudantes, é feito com alguma frequência no país e é a primeira vez que uma proporção tão alta é registrada.

Segundo os pesquisadores do Centro de estudos sobre Dependência e Saúde Mental do Canadá (CAMH), estudantes do sexo feminino têm uma probabilidade duas vezes e meia mais alta de apresentar estresse elevado e pensamentos suicidas em comparação com os garotos. E elas também são mais propensas a buscar tratamento.

A comparação com o resultado anterior, de 2013, revela que o uso de tecnologia e de mídias sociais aumentou para ambos os sexos. Cerca de 20% dos estudantes afirmaram passar cinco ou mais horas por dia nas redes sociais, contra 11%, em 2013. E quase 30% relataram passar cinco ou mais horas por dia em smartphones, laptops, computadores ou videogames.

Aproximadamente 5% dos estudantes admitiram ter um problema sério com o uso da tecnologia, como sensação de perda de controle ou sintomas de abstinência.

Por outro lado, a pesquisa trouxe algumas notícias positivas: os índices de violência e bullying nas escolas apresentaram redução. Já o de cyberbullying permaneceu estável.

Os pesquisadores explicam que a análise desses dados não permite afirmar, com certeza, que a tecnologia é a culpada pelos problemas de saúde mental. Mas eles lembram que outros estudos já mostraram essa conexão. Alguns também sugerem que as garotas seriam, mesmo, as mais vulneráveis ao impacto negativo das redes sociais.

Um em cada quatro estudantes visitou um profissional por um problema de saúde mental, número que permaneceu estável em relação a pesquisas anteriores. Cinco por cento dos alunos de ensino médio receberam medicação para ansiedade, depressão ou ambos, e cerca de 3% por cento de todos os estudantes procuraram ajuda ligando para um serviço de aconselhamento por telefone ou pela internet.

Mesmo assim, quase um terço dos entrevistados comentou que tinha vontade de conversar com alguém sobre sua saúde mental, mas que não sabia aonde ir. Se esses resultados foram obtidos num país como o Canadá, que tem um sistema de saúde público estruturado, dá para imaginar que no Brasil a situação não deve ser nada melhor.

Quase quatro em cada dez adolescentes afirmaram que raramente ou nunca falam com seus pais sobre seus problemas ou sentimentos. Por isso os pesquisadores alertam que é fundamental que os jovens tenham acesso a algum tipo de serviço específico para eles, em que sejam acolhidos com privacidade.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.