Topo

Jairo Bouer

Pessoas com propensão à culpa são mais confiáveis, diz estudo

Jairo Bouer

20/07/2018 20h06

Crédito: iStock

Muita gente tem dificuldade de confiar na própria sombra quando o assunto é dinheiro. Mas será que alguma característica da personalidade pode indicar quem é mais ou menos propenso a pisar na bola nesse sentido? Pode ser que sim.

Uma pesquisa da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, revela que pessoas com propensão à culpa são as mais confiáveis. O trabalho, publicado no periódico Journal of Personality and Social Psychology, não só traz um alento para quem tem essa característica, como serve de dica para identificar alguém idôneo.

Antes de mais nada, é bom fazer um esclarecimento: a característica referida pelos cientistas não é a culpa, propriamente dita, mas a tendência a se antecipar a ela. Assim, os pesquisadores dizem que são mais confiáveis aquelas pessoas que demonstram cautela por medo de cometer algum erro e depois se sentir mal por isso.

Enquanto a culpa faz as pessoas repararem algo que fizeram de mal ou algum erro, a propensão à culpa faz com que elas evitem pisar na bola, antes de mais nada. Ou seja, elas teriam um senso de responsabilidade interpessoal e seriam menos propensas a abusar da confiança depositada nelas.

De uma variedade de traços de personalidade analisados pela equipe, como extroversão, abertura, neuroticismo e cuidado com os outros, a propensão à culpa foi considerado o indicador mais forte de que confiabilidade. O estudo contou com entrevistas e jogos que envolviam dinheiro para chegar à conclusão.

Uma outra pesquisa, curiosa, indica que, quando uma pessoa é considerada confiável, tendemos a achar que o rosto dela se parece um pouco com o nosso. Uma equipe de cientistas da Universidade de Londres descobriu que as percepções de similaridade vão além de características físicas e da proximidade social.

No experimento, voluntários tinham que atribuir percentuais de semelhança em uma série de rostos. Depois, participaram de um jogo em que a confiança deles ora era retribuída, ora traída. Mais tarde, ao repetir o teste, os participantes julgaram os rostos de quem foi mais honesto no jogo como sendo mais parecido com o deles.

O pesquisadores já sabiam que julgamos pessoas parecidas com a gente como mais dignas de confiança, o que, por sinal, é algo perigoso. Mas eles comprovaram que o inverso também é verdadeiro. Os resultados foram publicados na revista Psychological Science.

No fim das contas, é muito difícil conhecer o caráter de alguém com pouco tempo de convivência. Mas se você tiver que fazer uma decisão às pressas, é melhor se apoiar em características de personalidade do que na aparência.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.