Topo

Jairo Bouer

Capacidade de distinguir emoções pode se alterar na adolescência

Jairo Bouer

11/06/2018 19h57

Crédito: Fotolia

Adolescentes podem ter uma dificuldade maior para distinguir emoções negativas em relação a adultos e até mesmo crianças, segundo um estudo de pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. A descoberta pode ajudar a explicar por que essa fase da vida costuma ser meio complicada.

Os cientistas detectaram que as crianças tendem a perceber e relatar apenas uma emoção de cada vez. Já os adultos com cerca de 20 anos conseguem experimentar várias emoções ao mesmo tempo e diferenciá-las. A adolescência seria um período de transição, em que os indivíduos começam a experimentar emoções múltiplas, mas ainda não sabem diferenciá-las muito bem, segundo a equipe descreve em artigo publicado no período Psychological Science.

A pesquisa contou com 143 participantes de 5 a 25 anos, que completaram tarefas relacionadas a emoções, como observar fotos diferentes com cenas negativas e tentar classificar o que os personagens estavam sentindo e com qual intensidade. Os temas abordavam raiva, nojo, tristeza, medo e decepção.

Os resultados geraram gráficos em "U": a distinção das emoções negativas diminuiu na adolescência e voltou a aumentar na idade adulta. Embora as crianças tenham apresentado a tendência de relatar uma emoção por vez, os adolescentes foram mais propensos a citar várias, mas sem distinguir tão bem as diferenças entre elas ao longo do experimento. Só com o avanço da idade que a capacidade se consolidou.

A hipótese precisa ser confirmada por outros estudos mais amplos. Outros estudos já mostraram que as alterações de comportamento típicas da adolescência talvez não sejam resultado apenas da explosão de hormônios da puberdade. Neurocientistas da Universidade da Pensilvânia, no ano passado, constataram, com exames de imagem de 1.189 jovens de 8 a 23 anos, que o volume de massa cinzenta no cérebro diminui na adolescência, ao mesmo tempo em que a sua densidade aumenta.

Eles também descobriram que o padrão dessas mudanças é diferente para meninos e meninas – elas têm uma densidade um pouco maior para compensar o volume um pouco menor que o deles. A massa cinzenta é responsável pelo processamento de emoções, fala, decisões, autocontrole etc, por isso é compreensível que tudo isso se altere diante de mudanças cerebrais tão profundas.

Muitos transtornos psiquiátricos têm início nessa fase da vida, bem como o uso abusivo de drogas e álcool. Por isso, entender melhor como os adolescentes processam emoções pode dar pistas mais concretas de como evitar esses problemas, que podem ter impacto pelo resto da vida.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.