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Jairo Bouer

Smartphone pode trazer problemas, mas também soluções

Jairo Bouer

30/05/2018 21h54

Crédito: Fotolia

Muitos estudos vêm destacando os problemas associados ao uso excessivo dos smartphone – prejuízos ao sono, às relações interpessoais, a dificuldade de se desligar do trabalho e assim por diante. Mas as tecnologias móveis também têm sido estudadas como ferramenta para ajudar as pessoas a cuidar da saúde. Aplicativos para combater o fumo, estimular a dieta ou o consumo de água são alguns exemplos.

Há até apostas mais ousadas. Um pequeno estudo publicado pela Universidade de Washington, esta semana, concluiu que um aplicativo de smartphone pode trazer resultados comparáveis a uma sessão de terapia em grupo para pacientes com transtornos psiquiátricos graves como a depressão. A tecnologia ainda gerou uma taxa de adesão maior, de acordo com os pesquisadores.

O experimento, descrito na revista Psychiatric Services, contou com 163 pessoas. Desse total, 49% tinham esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo, 28%, transtorno bipolar e 23% tinham depressão. Em média, os participantes tinham 49 anos, 59% eram homens e 65% eram afro-americanos.

Uma parte dos pacientes foi convidada a usar o aplicativo, enquanto a outra tinha a opção de ir a sessões de terapia em grupo. No final, 90% dos participantes designados a usar o app utilizaram a ferramenta ao menos uma vez, enquanto apenas 58% dos pacientes da terapia de grupo compareceram em pelo menos uma sessão.

Cerca de 56% dos participantes do grupo do aplicativo para celular completaram oito semanas ou mais de trabamento. Entre os designados para a terapia presencial, 40% cumpriram o programa. As duas intervenções receberam notas altas de satisfação no que se refere ao alívio dos sintomas.

O resultado reflete o que acontece um pouco na prática: muitos pacientes com transtornos psiquiátricos que precisam de terapia têm dificuldades para sair de casa, ou não tem acesso ao atendimento por motivos financeiros. Muitas vezes até o medo do estigma fala mais alto, e a pessoa acaba sem qualquer tipo de ajuda.

Claro que algoritmos estão longe de substituir o psiquiatra ou o psicólogo no diagnóstico e tratamento desses transtornos. Mas, da mesma forma que já existem aplicativos que ensinam técnicas de relaxamento, por exemplo, é possível que essas ferramentas ajudem as pessoas a regular emoções ou pensamentos negativos que aparecem no meio do dia.

No ano passado, um aplicativo que ajuda pacientes com transtorno bipolar a identificar episódios de mania (euforia), desenvolvido por pesquisadores das universidades de Illinois e do Michigan, chegou a ser premiado e pode, em alguns anos, ser disponibilizado no mercado. E já existe até um aplicativo feito na universidade alemã de Bonn, o Menthal, capaz de dizer se você está viciado no smartphone. Chega a ser contraditório depender do celular para descobrir que o aparelho está te fazendo mal. Mas é junto que a tecnologia também traga soluções para os problemas que causa.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.