Topo

Jairo Bouer

Ficar grudado no smartphone é antissocial ou hipersocial?

Jairo Bouer

07/03/2018 21h23

Crédito: Fotolia

Muitos estudiosos têm chamado atenção para as consequências do uso excessivo dos smartphones. Mas pesquisadores canadenses fizeram uma análise de diversos trabalhos publicados sobre o tema e concluíram que o fenômeno é simplesmente um reflexo do desejo profundo de se conectar com outras pessoas. Em outras palavras, eles sugerem que esse tipo de comportamento não é antissocial, e sim hipersocial.

Em artigo publicado no periódico científico Frontiers in Psychology, Samuel Veissière e Moriah Stendel, do departamento de psiquiatria da Universidade McGill, tentam mostrar que existe um lado positivo nessa mania de as pessoas viverem nas redes sociais ou trocando mensagens, vídeos e textos. Para eles, é preciso ter em  mente que o que vicia não é o aparelho, e sim a conexão que ele proporciona.

Os autores observam que os humanos evoluíram como espécies exclusivamente sociais, que precisam do retorno constante dos outros para se guiar e saber o que é culturalmente apropriado. A interação social traz significado, objetivos e senso de identidade para as pessoas.

O problema é que essa sede por conexões, que é absolutamente normal e até saudável, muitas vezes se transforma num comportamento insalubre – a hiperconectividade faz o sistema de recompensa no cérebro funcionar em ritmo exagerado e surge uma compulsão que pode trazer diversas consequências à saúde e aos próprios relacionamentos.

Para os pesquisadores, sugerir que as pessoas abandonem seus smartphones é algo inviável. Mas eles acreditam que algumas medidas simples têm benefício comprovado para o bem-estar, como desativar notificações e determinar horários para checar o celular. Estimular esses hábitos é ainda mais importante para os jovens, já que é mais difícil modificar comportamentos mais tarde.

Eles também reforçam que é preciso fazer um esforço para não cair na cilada de se comparar com os outros, já que a realidade apresentada nas mídias sociais é distorcida. Ter isso sempre em mente é uma forma de evitar as consequências negativas das tecnologias móveis. A outra dica é guardar o aparelho durante os encontros reais – já que eles são poucos, que sejam aproveitados ao máximo.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.