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Jairo Bouer

Problemas causados pela puberdade precoce duram mais que o imaginado

Jairo Bouer

28/02/2018 20h47

Crédito: Fotolia

Vários estudos têm mostrado que meninas que menstruam antes de suas colegas tornam-se mais propensas a problemas como depressão, ansiedade, transtornos alimentares, delinquência, abuso de substâncias e abandono escolar. Mas uma nova pesquisa revela que a vulnerabilidade psicológica provocada pela puberdade precoce pode persistir além do imaginado.

Pesquisadores das universidades de Cornell e de Pittsburgh avaliaram dados de 8.000 garotas, que foram acompanhadas da puberdade aos 30 anos de idade, e concluíram que aquelas que menstruaram mais cedo sofrem mais com depressão ou comportamentos antissociais também durante a vida adulta.

Nos últimos 50 anos, a idade da primeira menstruação (menarca) vem diminuindo progressivamente. Hoje, a média é 12 anos e meio. Para muitas garotas, porém, isso tem acontecido mais cedo, com 10 ou até 8 anos, quando ainda não há maturidade suficiente para encarar as consequências desse marco. Muitas vezes fica difícil até manter a amizade com colegas da mesma idade que amadurecem mais devagar, e isso tem um impacto psicológico.

Os autores do trabalho, publicado na revista científica Pediatrics, contam que a associação entre menstruação precoce e depressão foi significativa em todo o período analisado e com a mesma força, ou seja, o efeito não diminuiu conforme as garotas amadureceram.

Já em relação a comportamentos antissociais, como a delinquência, o passar dos anos só agravou o problema. Assim, se algumas adolescentes podem ser pegas roubando aos 15 anos de idade, mas abandonam a prática após a maioridade, aquelas que menstruaram mais cedo tendem a cometer delitos com mais frequência ainda na vida adulta.

É importante que pais e profissionais de saúde tenham consciência dos efeitos a longo prazo da puberdade precoce para poder ajudar essas meninas o quanto antes. É possível que intervenções como acompanhamento psicológico, psiquiátrico, ou o suporte adequado da família evitem que elas trilhem um caminho difícil de ser abandonado mais tarde.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.