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Jairo Bouer

Um game contra a depressão – que tal?

Jairo Bouer

04/01/2017 16h52

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Pesquisadores financiados pelos Institutos Nacionais de Saúde, nos Estados Unidos, afirmam que um videogame pode ajudar pacientes com depressão.

Eles avaliaram os efeitos de um aplicativo para celular ou tablet criado para atuar em nível neurológico e melhorar o foco e a atenção. A tecnologia foi desenvolvida por uma empresa e chama-se Projeto: EVO. Importante ressaltar que os pesquisadores, da Universidade de Washington, não têm qualquer relação com o fabricante.

O experimento contou com adultos com mais de 60 anos, divididos em dois grupos: o primeiro utilizava o videogame, enquanto o segundo foi submetido a um tratamento breve conhecido como terapia de solução de problemas. Ambos passaram por consultas semanais. Muitos participantes nunca tinham utilizado um tablet na vida, e mesmo assim aderiram bem ao aplicativo.

Os resultados, publicados no periódico Depression and Anxiety, mostraram que os usuários do game apresentaram uma melhora expressiva no humor. O curioso é que o aplicativo não foi desenvolvido especificamente para pessoas com depressão – o que acontece é que melhorar funções cognitivas, como foco e atenção, acaba tendo um efeito positivo para quem sofre com o transtorno e está sempre distraído pelo excesso de preocupações.

Um segundo experimento, feito em parceria com pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, contou com mais de 600 indivíduos norte-americanos com depressão leve ou moderada.  As conclusões, publicadas no Journal of Medical Internet  Research, indicam que o game trouxe resultados tão positivos quanto a terapia de solução de problemas e um aplicativo com dicas de saúde, uma espécie de placebo. No entanto, só os dois primeiros tratamentos deram resultados para os pacientes com sintomas mais fortes.

A vantagem do videogame é que ele não demanda consultas semanais com um terapeuta, algo que não é acessível para todos os pacientes. Mas os autores ressaltam que o aplicativo só funciona se houver supervisão, ou a pessoa não se sente motivada para jogar com a frequência necessária.

Vários outros estudos têm sido feitos com o Projeto: EVO para avaliar o efeito em outros tipos de doenças, como alzheimer e lesão cerebral. A empresa também já solicitou liberação do FDA (Food and Drug Administration) para utilização do game em crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Ainda faltam resultados para comprovar os benefícios desse tipo de tecnologia, mas toda novidade é bem-vinda para ajudar as pessoas a lidar com transtornos mentais.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.