Topo

Jairo Bouer

Cérebro dos solitários muda diante de situações sociais, mostra estudo

Jairo Bouer

07/08/2015 16h32

SOLIDAO300Todos nós podemos nos sentir rejeitados ou solitários de vez em quando. Mas o isolamento crônico pode provocar alterações no cérebro que fazem o mecanismo de alerta disparar toda vez que a pessoa entra em contato com um estranho, segundo estudo publicado na revista científicaCortex.

De acordo com a pesquisa, solitários crônicos teriam um cérebro um pouco diferente dos não solitários por causa disto. O isolamento faria o cérebro entrar no "modo de autopreservação", digamos assim. E isso tornaria a pessoa mais defensiva diante de uma suposta ameaça social. Assim, esses indivíduos se tornam bem mais sensíveis a críticas e tendem a ignorar elogios.

O casal de pesquisadores Stephanie e John Cacioppo, em parceria com Stephen Balogh, da Universidade de Chicago, distribuíram questionários para 38 pessoas que se consideravam muito solitárias, e para 32 que não se sentiam assim.  Todos eles passaram por um exame minucioso de eletroencefalografia, a fim de medir alterações imediatas na atividade cerebral. E, durante o teste, os participantes eram submetidos a palavras positivas, como "pertencer" e "festa", assim como negativas, como "sozinho" ou "solitário", e ainda a palavras positivas e negativas sem conotação social, como "alegria" e "tristeza". A rapidez da exposição impedia que as pessoas parassem para pensar no significado das palavras.

Os pesquisadores analisaram as ondas cerebrais dos voluntários e anotaram as mudanças de padrão. Diante das palavras negativas ligadas ao social, os solitários tinham ativadas áreas cerebrais envolvidas no controle da atenção, ou seja, eles entravam em um estado de vigilância. E conseguiam, inclusive, diferenciar as palavras negativas com conotação social das genéricas, apesar da rapidez do teste.

Os resultados condizem com os obtidos em estudos anteriores. Em um deles, feito em 2009, com escaneamento cerebral, mostrou que os solitários apresentam maior atividade diante de imagens de pessoas estressadas.

Os pesquisadores reforçam que, ainda que uma pessoa tenha milhares de seguidores no Facebook, ela pode se sentir solitária e se isolar socialmente, o que quase sempre traz consequências negativas. Somos seres sociais, e precisamos de relacionamentos para ter bem-estar e até saúde.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.