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Jairo Bouer

Maconha serve de ponte para outras drogas quando jovem sofre de tédio

Jairo Bouer

05/07/2015 11h59

MARIJUANA300Muita gente diz que a maconha serve de "ponte" para drogas mais pesadas. Mas, segundo um estudo norte-americano, isso só acontece se o usuário sofre de tédio. A conclusão foi publicada no Journal of Drug and Alcohol Abuse.

Segundo o trabalho, divulgado no jornal britânico Daily Mail, 70% de um total de 2,8 milhões de indivíduos que usaram drogas ilegais pela primeira vez em 2013 relataram que a maconha tinha sido a primeira.

Os pesquisadores, da Universidade de Nova York, analisaram as diferentes razões apontadas pelos adolescentes para terem recorrido à maconha e a outras drogas ilícitas. Os motivos mais relatados foram tédio, vontade de experimentar algo diferente e busca de instrospecção após o uso de outras substâncias.

Os resultados mostram que dois terços dos adolescentes que usaram maconha não passaram a usar outras drogas mais pesadas, como cocaína e até heroína. E os jovens que disseram ter buscado a erva para combater o tédio foram os que apresentaram uma tendência maior a fazer isso.

A análise incluiu cerca de 15 mil adolescentes de 17 a 18 anos de 130 escolas públicas e privadas de diversos Estados norte-americanos. Entre os jovens que se drogavam, as substâncias descritas foram cocaína, crack, heroína, LSD ou outros alucinógenos, anfetaminas ou outros estimulantes, tranquilizantes e narcóticos.

Entre aqueles que afirmaram sofrer de tédio, as drogas mais procuradas depois da maconha foram a cocaína e os alucinógenos, exceto o LSD. Uma parcela de 11% relatou ter usado maconha para aumentar o efeito de outras substâncias.

O curioso, segundo o principal autor, o médico Joseph Palamar, foi que os adolescentes que usaram a erva apenas "para experimentar" foram os que menos apresentaram tendência a passar para outras drogas depois.

Para o pesquisador, é importante que os programas de assistência e prevenção ao uso de drogas invistam em formas de ajudar os jovens a lidar com o tédio, já que isso pode levar muitos deles a experimentar outras substâncias e apresentarem uma propensão maior à dependência.

 

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.