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Jairo Bouer

Anormalidade no cérebro pode explicar casos de autoimagem distorcida

Jairo Bouer

12/03/2015 16h30

ANOREXIA300Um estudo que acaba de ser divulgado pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), mostra que pessoas com anorexia nervosa e transtorno dismórfico corporal têm anormalidades semelhantes no cérebro, que afetam a capacidade de processar a informação visual.

O transtorno dismórfico corporal faz a pessoa acreditar que tem defeitos físicos que não na realidade não existem, ou, em muitos casos, achar que um defeito mínimo é algo de proporções terríveis. A doença afeta cerca de 2% da população.

Essa distorção da própria imagem, algo que chega a ser delirante, também é uma característica da anorexia, doença que leva pessoas a restringir a alimentação e emagrecer a ponto de, muitas vezes, ter de ser internado.

Ambos os transtornos costumam ter início na adolescência e, uma vez que as encanações com o corpo são comuns nessa fase, o diagnóstico acaba sendo tardio, o que pode levar a complicações graves.

Se a anorexia leva à desnutrição e, em certos casos, à morte, o transtorno dismórfico corporal pode resultar em isolamento, abuso de medicamentos ou realização de cirurgias frequentes, que por sua vez geram novas preocupações com a imagem. Depressão e tentativas de suicídio também são frequentes.

De acordo com os pesquisadores da UCLA, pessoas com ambos os transtornos têm uma atividade anormal no córtex visual nos primeiros instantes, quando o cérebro processa as imagens como um todo, antes de chegar aos detalhes. Os dados foram publicados no periódico Psychological Medicine.

Para chegar à conclusão, a equipe usou ressonância magnética funcional e eletroencefalograma. Eles compararam os resultados de 15 pessoas com anorexia, outras 15 com transtorno dismórfico e mais 15 indivíduos saudáveis depois que todos foram expostos a fotos de pessoas e de paisagens.

Os cientistas também descobriram que os indivíduos com transtorno dismórfico apresentam maior atividade em áreas do cérebro que processam informações detalhadas. Curiosamente, quanto menos atraentes julgavam ser os rostos apresentados nas fotos, maior era atividade nessas regiões. Também nesse caso a diferença estava ligada à atividade elétrica que ocorre nos primeiros milissegundos após ver a imagem.

O entendimento do processo pode levar os pesquisadores a novas estratégias para lidar com esses problemas. Atualmente, os pacientes são encaminhados para psicoterapia e, muitas vezes, medicados com antidepressivos e outros remédios. Em geral, o tratamento é longo e pode durar a vida inteira.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.