Topo

Jairo Bouer

Pessoas distorcem o passado para justificar relação que vai mal, diz estudo

Jairo Bouer

11/11/2014 12h07

CORACAO300Namorados que se casaram geralmente se lembram do que estavam fazendo em cada etapa do relacionamento – quando se conheceram, quando se declararam, decidiram que queriam morar juntos, juntaram os trapos e, finalmente, oficializaram a união.

Mas os casais cujo compromisso estagnou ou regrediu são bem menos precisos em suas memórias, segundo um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

Uma equipe liderada por Brian Ogolsky, professor e especialista em desenvolvimento humano e familiar, acompanhou 232 casais de namorados heterossexuais ao longo de nove meses. Eles estavam juntos havia dois anos, em média, e não tinham casamentos no currículo.

Cada membro do casal conversava com os pesquisadores e relatavam sobre suas chances de se casar uma vez por mês, por meio de uma pontuação de 0 a 100. Eles eram orientados a levar em consideração o ponto de vista do parceiro. Com base nos números, os pesquisadores montaram um gráfico que não podia ser visto pelos participantes.

No fim do pesquisa, cada um fez uma reflexão sobre o relacionamento, relembrando momentos importantes. A trajetória real e a lembrada pelos casais foi comparada e analisada pelos pesquisadores.

A análise levou os casais a serem divididos em três grupos: os que avançaram (e aprofundaram o relacionamento), os que regrediram (e acabaram se encontrando só casualmente, por exemplo) e os que mantiveram a relação na mesma.

Segundo Ogolsky, os casais que evoluíram em seu compromisso lembravam direitinho a história do relacionamento. Para eles, o gráfico apresentava uma linha ascendente.

Os "mantenedores" apresentavam memórias recentes mais claras do que as antigas. Claro que eles não enxergavam a relação como estagnada, e achavam que tinham avançado, mas o gráfico não mostrava alterações significativas.

Já os casais que regrediram trouxeram um resultado curioso. Pelo gráfico, os pesquisadores viam que os relacionamentos estavam despencando, mas os participantes achavam que estava tudo bem, numa clara atitude de negação. E suas lembranças sobre as etapas da vida a dois eram bastante distorcidas.

Ogolsky observa que as pessoas gostam de sentir que a relação está progredindo. E, quando isso não acontece, a reação é distorcer o passado a fim de ter uma justificativa para permanecer no relacionamento.

É como se a memória funcionasse a serviço dos nossos interesses. Se você está num relacionamento, portanto, talvez valha a pena fazer um check-up das recordações do casal.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.