Abuso psicológico na infância pode ser tão prejudicial quanto o físico
Crianças que são emocionalmente abusadas e negligenciadas enfrentam problemas semelhantes ou até piores que aquelas abusadas física ou sexualmente, de acordo com um estudo publicado pela Associação Americana de Psicologia. Apesar disso, o abuso psicológico é raramente abordado em programas de prevenção ou tratamento.
Para o principal autor do trabalho, o pesquisador Joseph Spinazzola, de um centro especializado em trauma em Massachusetts, dada a prevalência do abuso psicológico e da gravidade do dano provocado às vítimas, o assunto deveria ser prioridade nos serviços sociais e de saúde mental.
Ele e sua equipe usaram um banco de dados com 5.616 jovens com algum histórico de abuso. A maioria (62%) tinha sofrido maus tratos psicológicos (abuso emocional ou negligência), e quase um quarto de todos os casos eram exclusivamente desse tipo. Eram garotos e garotas cujos cuidadores haviam praticado assédio moral, controle coercitivo, insultos graves, ameaças, demandas esmagadoras ou provocado isolamento da criança.
As crianças sofriam de ansiedade, depressão, baixa autoestima, sintomas de estresse pós-traumático e algumas haviam tentado suicídio. A proporção encontrada foi similar, ou, em alguns casos, até maior do que em casos de abuso físico ou sexual.
Em comparação com os outros tipos de maus tratos, o abuso psicológico foi mais fortemente associado a depressão, transtorno de ansiedade generalizada, ansiedade social e abuso de substâncias.
Só quando o abuso físico ou sexual ocorria junto com o psicológico é que era capaz de causar tanto impacto quanto o segundo tipo de maus tratos isoladamente no que se refere a problemas na escola, dificuldades de relacionamento e comportamentos autodestrutivos.
Em artigo publicado na revista Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy, Spinazzola comenta que assistentes sociais e serviços de proteção à criança podem ter mais dificuldade em reconhecer e comprovar o abuso emocional ou os casos de negligência, pela falta de marcas físicas.
Além disso, ele acredita que o problema não é considerado um tabu, como acontece com o abuso sexual. Tudo isso prejudica ainda mais as vítimas de abuso psicológico, que muitas vezes também não sabem identificar o problema para relatá-lo a alguém.
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