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Jairo Bouer

Games violentos podem deflagrar comportamentos de risco, diz estudo

Jairo Bouer

04/08/2014 13h07

game300Jogar videogames violentos é só uma forma de se divertir ou pode estimular a agressividade? Um grande estudo publicado nesta segunda-feira (4) indica que determinados jogos podem, sim, aumentar a propensão de jovens a comportamentos de risco como beber, fumar e se envolver em brigas.

O trabalho foi feito por uma equipe do Darmouth College, nos EUA, e publicado no Journal of Personality and Social Psychology, periódico da Associação Psicológica Americana. Os resultados foram os mesmos para meninos e meninas.

Pesquisadores entrevistaram mais de 5.000 adolescentes com pouco menos de 14 anos contatados aleatoriamente. As conversas, feitas por telefone, foram repetidas quatro vezes ao longo de quatro anos. Um total de 2.718 jovens foi detido durante o processo.

Segundo o líder do estudo, o pesquisador Jay Hull, que preside o departamento de ciências psicológicas e do cérebro de Dartmouth, os games permitem aos usuários viver na pele de outra pessoa. Jogos com protagonistas violentos e antissociais geram recompensas a comportamentos de risco, portanto não é de se admirar que, em algum grau, isso seja repetido na vida off-line.

Na entrevista inicial, foi detectado que 35% dos jovens não jogavam videogames, e 15% eram proibidos pelos pais de jogar games considerados inadequados para a idade deles. Sobraram, portanto, 49,5% dos entrevistados. O videogame mais popular entre eles era o Grand Theft Auto III, que permite ao usuário encarnar um criminoso – o jogo era apreciado por quase 58% dos jovens.

Nos levantamentos posteriores, os adolescentes foram questionados sobre uso de álcool e tabaco, atividade sexual e envolvimento em brigas. Os pesquisadores também diziam frases como "Eu gosto de fazer coisas perigosas" e pediam para eles responderem se aquilo tinha a ver com o que pensavam ou sentiam.

Os pesquisadores descobriram que quanto maior a frequência com que os jovens jogavam games violentos, maior o envolvimento deles em agressões. O uso de álcool e de tabaco também aumentou exponencialmente ao longo do tempo, à medida em que o envolvimento com esses jogos também aumentava.

Os resultados reforçam um estudo anterior feito em 2012, também em Dartmouth, que mostrou como certos jogos podem levar jovens a dirigir perigosamente e se envolver em acidentes.

Os videogames não precisam ser demonizados, mas estudos como este sugerem que é preciso ficar atento ao tipo de experiência que eles proporcionam. Os jogos são uma ótima ferramenta de lazer e de aprendizado para os jovens, mas isso pode funcionar para o bem e para o mal.

Sobre o autor

Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.

Sobre o blog

Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.